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sexta-feira, 22 de abril de 2011

VIAGEM À HOLANDA

O Blog dos encontros dos ex-seminaristas da Escola Apostólica Santa Odília acompanhou a viagem do casal Antônio José Ferreira (o Santana) e Maria Fátima S. Ferreira à Holanda, de 7 a 16 de Abril de 2011.


Foto 163 Antônio José Ferreira e Maria Fátima S. Ferreira na Holanda.

Foto 164 Santana em 1961
Na foto da esquerda, o Antônio José Ferreira dos tempos do seminário. Naquela época, ele era conhecido pelo apelido que tomou emprestado de sua terra natal, Santana do Jacaré MG, cidade muito visitada pelos seminaristas, local de férias e de mergulhos no rio Jacaré. Há algumas crônicas neste blog que falam daquela cidade, de seus encantos e de seu povo acolhedor. O nosso colega Santana  mora atualmente (Abril de 2011) em Lavras - MG.
A iniciativa do relato fotográfico da viagem foi deste editor que ao tomar conhecimento dela a considerou  como de interesse de todos os ex-seminaristas por ser a Holanda o berço dos que dirigiram a EASO. Aliás, de onde mais poderiam vir aquelas bolas de gude coloridas de que nos fala o Seoldo; e os selos das cartas que os padres recebiam e que sempre foram muito disputados pelos pequenos seminaristas, todos  colecionadores; e as caixas de  charutos com paisagens de moinhos de  vento. Pois é, a Holanda faz parte de nossos sonhos de crianças.  Durante a sua estada lá, o Santana nos enviou algumas impressões:
"Isto aqui é lindo, vocês precisam vir a esta terra"
"E finalmente, no dia 19 de Abril de 2011, o Santana enviou-nos o seguinte e-mail:
"Desejo-lhe e a todos os seus familiares uma Feliz Páscoa!
Aproveito para enviar-lhes notícias de nossa viagem à Holanda. Infelizmente não consegui falar com o Pe. Clemente nem com o Pe. Cornélio.  Parece que o telefone do Pe. Clemente (que o Raimundo me passou) estava desatualizado e o email do Pe. Cornélio não funcionou.
A viagem está sendo muito interessante. Aí vão algumas fotos de nossa estada na Holanda. Hoje, estamos na Irlanda.
Um grande abraço,
Antônio José (Santana) e Fátima"
Foto 165 Maria Fátima S. Ferreira na  Holanda
Foto 166 Maria Fátima e Antônio José Ferreira
Foto 167 Antônio José Ferreira e Maria Fátima S. Ferreira na frente do shopping Magna Plaza em Amsterdam

Foto 168 Fátima e Antônio José


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Entrevista com Antonius Matheus Reijnen


Perfil


Nascimento:12 mai 1928

Casou-se com Maria do Socorro da Silveira Reijnen (7 set 1942 - 31 Mai 2003)
Professor Toon. Foto de 29 de agosto de 2013
Holandês, veio para o Brasil como padre, tendo atuado em Miracema – RJ, Campo Belo -MG e em Belo Horizonte. Deixou a batina para se casar com Socorro em 1971.
Psicólogo.
Ex-professor do Colégio Dom Cabral – Campo Belo
Ex-professor do Imaco – Belo Horizonte - nas disciplinas de História e Psicologia
Ex-Vice-Diretor da FUNABEM – Fundação Nacional do Bem Estar do Menor
Filhos: Alexandre Matheus da Silveira Reijnen e Renata da Silveira Reijnen.






Apresentação



Fomos novamente a Santa Tereza, em Belo Horizonte, um bairro que deixou sua marca na vida de muitos Easistas. Dessa vez, nosso interesse voltava-se para aquele antigo mestre do Colégio Dom Cabral dos anos 60, que chamávamos de Padre Antônio, mas cujo nome de origem é Antonius Matheus Reijnen e apelido Toon. Ele, já naquele tempo, gostava dos movimentos sociais, da juventude, de ensinar teatro e de viver no meio das pessoas. Fomos, também, movidos por um interesse específico: conseguir dele uma entrevista para o Blog. Já conhecemos um pouco de sua história: veio da Holanda como padre crúzio, no final dos anos 1950;  esteve inicialmente em Miracema, Rio de Janeiro; depois foi para Campo Belo de onde, finalmente, veio para Belo Horizonte; e já no final dos anos 1960, vamos encontrá-lo ajustando o curso de sua vida, largando a batina  e se casando com Socorro.



Comemoração dos 85 anos na Holanda.
Na foto de cima: Alexandre, de cócoras.
Ao fundo, Toon e os amigos.


Depois de muitos anos, queríamos aproximar-nos, ver como ele estava e dar notícias disso aos colegas, encontristas da EASO. Com isso na cabeça, havíamos marcado uma reunião na casa onde moram atualmente os padres Guilherme, Tiago, Teófilo e João Maria. Cumprindo com rigor o horário estabelecido, lá estava ele, às 15:30 hs de um sábado frio.  Viera de carro do Sion para Santa Tereza, nada demais para um psicólogo de 85 anos, que ainda abre a clínica para atender a alguns pacientes, pratica natação no Country Clube e quer trabalhar até quando puder.


Já no início da conversa — não sei se sempre foi tão direto — perguntou-nos: “o que vocês querem comigo, exatamente?”. Uma pergunta à queima-roupa ensejou igual reação: “Simplesmente revê-lo, mas de repente o senhor pode nos conceder uma entrevista para o Blog”, respondemos. Foi assim, tão simples, que conseguimos esta entrevista.


No dia 29 de agosto de 2013, fomos novamente ao seu encontro. Recebeu-nos, então, no salão de festas do prédio onde ele mora. Estava com a filha, Renata, e o neto, Toon, uma criança tipicamente holandesa: cabelos loiros e olhos claros e espertos.  Enquanto testávamos os equipamentos de gravação, o neto brincava com a mãe ali por perto, pois o salão de recepções se liga, no mesmo nível, aos jardins que rodeiam o prédio.


O neto em 2013, com dois anos.

E a entrevista teve início. Toon, o avô coruja, tem a vivacidade de um jovem, a sabedoria de quem vive intensamente e, acima de tudo, é paciente e receptivo. Transmite aquela confiança dos que vivenciam o que falam e falam o que pensam. Durante a entrevista, Toon responde a todas as perguntas, mas não gosta de falar sobre todos os assuntos; parece que a consciência é sua polícia, mas não a subordina ao interesse particular e à precaução pessoal. Quando se nega a um juízo de valor o faz pela própria certeza na limitação ou pela consciência de sua responsabilidade.


À medida que a entrevista vai se deslanchando, suas palavras, seus gestos e suas convicções vão desenhando um homem em que a grandeza se alicerça, exatamente, em não querê-la: não gosta do mito, da ostentação, das alegorias e da valorização do material. Quando fala de Francisco, o Papa, deixa isso bem claro: “gosto dele porque não é um homem do trono”.  


As palavras de Toon, nesta entrevista, mostram o ser humano que vive a plenitude da vida e que busca a felicidade sem a ilusão de que seja completa. Quanto mais avançamos em compreender suas ideias, mais elas se fecham em torno de uma linha de coerências: afinal, como poderia ser completo aquilo que se realiza numa jornada que não termina enquanto se está vivo? Perguntamo-nos.


Esta entrevista nos deixa convencidos de que o mais profundo para as pessoas está sempre no mais simples. Toon nos dá suas referências: a busca da felicidade está no trajeto; os outros devem ser considerados como companheiros de viagem; devemos valorizar o que temos e ter uma esperança.


 O pensamento de Toon certamente esquentará, um pouco mais, o nosso V Encontro. Um homem que vive por inteiro, que tem a coragem de mudar a trajetória de sua vida e moldá-la ao próprio querer,  e que busca a felicidade junto aos outros, não é alguém que se encontre todo dia. Toon não quer ser mito; mas certamente aceitará nosso respeito.


Pelo menos podemos dizer: salve Toon!


Os holandeses talvez digam: sparen Toon! 

  
Perguntas
1.   Editor: como o senhor definiria a vida com base em sua experiência familiar, profissional e religiosa?
Toon: a vida é uma preciosidade. A vida é, no fundo, como a gente a quer. Não pensando em coisa material, mas em relações humanas, a gente é feliz no que a gente quer; a felicidade total não existe, existe o caminho e nele podemos ser felizes. A felicidade está no caminho e não na chegada.
2.   Editor: na sua visão, o que é ter uma vida bem sucedida?
 


O casamento: um dos mo-
 mentos marcantes da vida
 do  entrevistado. 
 Toon e Socorro (Foto de 
 1971)
Toon: é uma pergunta bem difícil porque a vida depende das aspirações de cada um, pois se a pessoa conseguir, parcialmente, realizar o que sonhou, ela é feliz. Digo parcialmente, pois tudo na vida é relativo, a própria vida é relativa; a vida é um caminho; o tempo que a gente vive nesta terra, pensando bem, é pequeno. Nós fazemos parte de uma história e a contribuição para a história depende muito da gente. Eu sou feliz porque consegui realizar o que sonhei, gostei muito das pessoas que encontrei. Eu tenho até hoje muitos amigos em vários lugares deste país e da Holanda.

Padre Agostinho presidiu o 
casamento celebrado por 
Toon e Socorro, em 1971. 
Foto de 2008 (I Encontro da
EASO)
     3.  Editor: numa conversa anterior, quando conversamos lá em Santa Tereza, o senhor me disse, se entendi bem, que o que realmente importa é o relacionamento com as pessoas, é o outro. Eu peguei bem o seu pensamento? O senhor poderia desenvolver um pouco mais essa filosofia de vida?
Toon: o outro para mim é sempre aquele que segue o mesmo caminho que percorro e que, no fundo, tem as mesmas aspirações, ou seja, que quer ser feliz. Onde a pessoa coloca a felicidade, isso é muito relativo; para mim a felicidade é sempre estar satisfeito com o que se tem e ver o outro como colega, participando da mesma vida.



4.   Editor: nós, os Easistas, estamos na faixa dos 56 aos 72 anos; como psicólogo, que conselho o senhor nos daria para que possamos enfrentar bem o processo de envelhecimento?




Toon: ficar satisfeito com o que (se) tem. Pensar com alegria sobre as coisas que já teve e tentar viver em direção a uma esperança. E essa esperança é um reencontro com a nossa origem. Pode-se chamar isso de Deus  (vídeo abaixo).


   
 
5.  Editor: que fatos mais importantes marcaram sua vida?
Toon: na Holanda, primeiro foi a morte de meu pai, ele morreu de pneumonia, naquela época a cura era difícil; depois, a entrada dos alemães na Holanda e, também, a entrada dos ingleses e americanos, não tanto pela alegria, havia medo também. Puseram oitocentos canhões na minha rua. Isso perto da capital da província. Na época era uma pequena aldeia, com 500 a 800 habitantes, hoje deve ter mais de dois milhões. Minha família toda morava lá, éramos agricultores. Eu catei batatas quando menino.

No Brasil, o primeiro fato marcante aconteceu quando eu estava trabalhando em Campo Belo e me avisaram que minha mãe havia morrido. Eu fiz (celebrei) uma missa na igreja de Santa Efigênia, de Campo Belo; fiquei emocionado pelo apoio, principalmente, que a juventude de Campo Belo me deu.
Há muitas coisas que aconteceram no Brasil, mas eu destaco o meu casamento, que aconteceu também no meio de outros fatos, como, por exemplo, a difícil aceitação de meus colegas em relação à minha decisão de largar a batina e me casar; dos estudantes não, estes me apoiaram.

 
6.  Editor: como tem sido sua vida atualmente?
Toon: Boa, eu tenho ainda meia dúzia de pacientes, atendo um ou outro. A maioria da minha idade já nem existe e, dos que estão vivos, a maioria não tem mais atividade.  Eu pretendo assegurar essa minha atividade até quando puder; é bom, é importante, eu me sinto útil e também me sinto obrigado a fazer alguma coisa. Pratico também a natação.

 
7.   Editor: o que o senhor mudaria, em sua vida, se pudesse voltar o tempo e fazer diferente?
Toon: faria tudo do mesmo jeito.

 
8.   Editor: como o senhor vê a chegada do Papa Francisco?


Papa Francisco: "aceitou sua posição,
mas quis ser, realmente, alguém
para o povo".

             Toon: um homem pelo qual eu tenho admiração, gosto da simplicidade dele e ao mesmo tempo do seu idealismo. Afastou o mito (do cargo). Não é aquele tipo de papa distante das pessoas, não é aquele papa do trono. Aceitou a sua posição, mas quis ser, realmente, alguém para o povo. Eu sinto muita simpatia por este papa, é gente normal, pessoa normal!
 
 
9.   Rafael: como o senhor compararia o Brasil de hoje com aquele que existia quando de sua chegada ao Brasil?
      Toon: quando cheguei aqui, o Brasil era um país lá na América do sul, a ideia era assim, um país de índios, eu não tinha muito isso, mas a maioria pensava assim. O brasileiro é fundamental. O brasileiro é muito simpático. Eu encontrei um país a caminho da modernidade, o Brasil não era um paisinho assim... O Brasil é um país muito importante. Um povo alegre, muito diferente daquela visão europeia. Hoje o país melhorou muito, não sei se do ponto de vista humano também. Agora, me chamaram sempre de comunista, eu não gosto muito dos bancos... e agora eu apoio essa política de maior distribuição terras, eu gosto disso aí!

 
10.  Rafael: o Senhor hoje é um crítico da Igreja ou a vê como no caminho certo?
      Toon: a minha pergunta é: o que é a Igreja? A igreja não é aquela organização de Roma, não. A igreja é a presença de Deus, a consciência da presença de Deus no nosso meio, tentando fazer o bem que Deus sempre comunicou (apontou), o outro . Se a Igreja não está no caminho certo, pelo menos ela o procura; se está ou não certa, eu não sou autorizado a falar disso e, também, não gosto de falar disso. Só tem uma coisa que eu gostei: o papa é uma pessoa normal, isso eu gostei.

 
11.  Edgard: hoje, aos 85 anos, quais são suas melhores lembranças da época em que ainda exercia o sacerdócio e fazia parte do austero comando do Seminário de Campo Belo, junto àquela criançada?
Toon, à direita, prepara os jovens  para o teatro. Foto dos anos
1960 quando ele era padre e morava em Campo Belo MG
Toon: os próprios jovens, a amizade deles, que me tratavam de igual para igual. Eu tentei sempre acabar com o mito. O mito não é coisa boa, não. Um grande amigo meu, desse tempo, chama-se Vicente Odair Spindola, que mora atualmente aqui em Belo Horizonte.

 
12. Edgard: que filme passa por sua cabeça ao lembrar-se daquela linda batina branca com uma simpática capa preta e uma faixa, também preta, ostentando no peito a cruz vermelha, fazendo sermões nas festas de Semana Santa e em outras oportunidades?
Toon: a pergunta é muito comprida... eu não gostava muito daquela batina. Pra mim é coisa da idade média. O tempo mudou demais... o mundo  mudou. Não me lembro muito dos sermões. Muitos falavam que eu era meio comunista. A culpa (rsrsrs) de eu ter ido para Campo Belo foi do padre Justino Ele sabia que eu gostava dessas atividades com os  jovens e me convidou para ir para Campo Belo. Antes disso, eu estava em Miracema.

 
13  Edgard: tenho uma grande curiosidade: lembro-me claramente de seu emocionante discurso na Igreja Matriz de Campo Belo, em 1962, durante a comemoração do Dia das Mães, quando quase todos choraram. O senhor ainda se lembra disso?
Toon: eu não me lembro desses discursos. Eu falava o que sentia e pensava, e nem sei se os outros gostavam.
 
 
14. Edgard (Pergunta para a filha Renata):como você define seu pai?
Festa de aniversário das crianças. Foto dos anos 1980.
Na frente, Alexandre e Renata. Atrás, Socorro e Toon
Renata: ai meu Deus do céu!  (Toon: “eu não posso nem escutar” (rsrsrs) É, pois é, meu pai não pode escutar.  Eu o acho uma pessoa corajosa. Vir ao Brasil, largar a batina. Ele tem uma certa cultura; se adaptou ao Brasil, virou mais brasileiro que holandês. Um homem com sabedoria de vida, teimoso e sempre soube e sabe o que quer, mas tenta não desagradar a ninguém. É um bom pai, foi um bom marido. Uma pessoa extremamente independente que soube se virar na vida mesmo passando por situações muito difíceis.


 
15.     Marcos Rocha: qual a sua opinião sobre o celibato exigido pela Igreja Católica de todos os padres e, como desdobramento desta questão, o que o senhor pensa sobre o posicionamento da Igreja em relação ao papel que poderiam ter os ex-padres (que optaram pelo casamento, como é o seu caso) no atual momento do catolicismo? Pois é sabido que as vocações sacerdotais têm diminuído em todo o mundo e, portanto, faltam tantos padres em praticamente em todos os países do mundo...
Renata e o filho Toon, em  Arnhem,
 Holanda, onde morou com o marido
por 3 anos.
Toon: o mundo está em crise, nós estamos numa mudança de época, mudança de mentalidade. Como vai ser, ninguém sabe porque precisaria ser um profeta, mas que o mundo está em mudança nós sabemos que está. Não é só o Brasil, a Holanda e sei lá onde mais, agora é o mundo, um pouquinho oriental e ocidental, ... vamos ver como vai ser isso. Um país curioso é a Rússia, um lado ocidental, mas o outro lado muito oriental. Mas aquele presidente da Rússia, cala a boca! (Risos)
Neste contexto e voltando à pergunta: o celibato eu acho uma coisa boa, mas o celibato obrigatório, ligado a uma vocação, eu não acho certo, não. Agora, o celibato por opção livre da pessoa, aí sim. Quanto aos ex-padres serem convidados para atuar na igreja, não sei se seria uma boa coisa. Nem sei se seriam bem aceitos e também nem sei se eu mesmo seria bem aceito. Não sei qual seria a reação. Nunca pensei nisso.

 
16.     Marcos Rocha: ainda como desdobramento da pergunta anterior, o que o senhor pensa sobre os escândalos que têm surgido em vários países (EUA, Irlanda, Portugal, também aqui no Brasil e até no Vaticano!) sobre pedofilia e homossexualismo praticados por padres. O Sr. vê alguma correlação entre esses desvios de conduta de padres e até bispos católicos e a exigência ou obrigação do celibato?"
Toon: com relação ao celibato poderia ter alguma correlação.  Como já disse, o celibato obrigatório não é uma boa coisa.

 
17.     Santana: nos anos sessenta, o senhor nos incentivou muito ao gosto pelo teatro e pelas representações cênicas, gostaríamos de saber se, posteriormente em sua vida profissional, o senhor organizou peças teatrais ou se envolveu em outras atividades artísticas?"
Foto dos anos 1980. A partir da esquerda:
Alexandre, Renata, Mônica, Socorro e Toon.
Toon: não, eu tinha que trabalhar. Não tinha mais tempo para teatro. Eu sempre apoiei o pessoal que mexia com artes, mas eu mesmo não tinha tempo; tinha dois filhos pra criar... dava aulas de psicologia e história. Fui professor do IMACO. O diretor do IMACO, Raul Murad, era muito meu amigo. Por aquele diretor eu tenho a maior admiração, muito correto.  
 
 
18.     Seoldo: a gente cria raízes novas, adapta-se e tudo... Mas as raízes velhas cobram um preço alto pelo transplante. Como você se sentiu/sente como um imigrante holandês no Brasil? Saudades da Holanda? (Em geral, imigrantes sofrem bastante).

Toon: não, eu me senti muito bem aqui desde o início. Eu aprendi uma coisa que uma pessoa falou para mim, não sei mais quem, mas é o seguinte: quando você vai ao outro lado, você tem que olhar. Então, quando vim para o Brasil, eu olhei, não tinha uma ideia moralista do certo ou errado.

 
19.     Seoldo: nosso grupo de conscientização lá do Bairro Santa Tereza -BH (do qual você foi o guia/líder e Socorro uma ativa participante) parece que, de uma maneira ou de outra, empurrou-me para ir trabalhar na Colônia Pindorama - AL, um projeto de reforma agrária tipicamente de cunho socialista - participação no trabalho e no ganho. O que aconteceu com aquele grupo depois de 1968?
Toon: o grupo se dispersou pouco tempo depois de 1968. Ali pelos anos 70, se não me falha a memória, eu larguei a batina. Casei-me em 1971, e o grupo deixou de existir.

 
20.     Seoldo: creio que sua decisao de deixar o sacerdócio foi dura, penosa... porém, corajosa. Admiro muito sua arrancada e a opção de formar uma família com Socorro. Aonde vocês foram passar a lua de mel?
Toon:  no Rio de Janeiro.  

         Outras fotos do entrevistado
O neto, o xodó.

Renata e o marido, Hans.

domingo, 16 de outubro de 2011

Entrevista com o Professor Luís Fransen



Entrevistado: Ludovicus Johannes Hubertus Maria Fransen (86)
Nome adotado no Brasil: Luís Fransen
Natural de Helmond, Holanda.
Data de Nascimento: 13/09/1925
Formação acadêmica: Teologia/Filosofia/Língua Inglesa pela Universidade de Cambridge, Inglaterra.
Profissão: Professor (aposentado desde 1986)
Disciplinas que ministrou: História, Geografia, Filosofia, Francês e Inglês.


  
Eduardo Jenner (de pé), Professor Luís Fransen e Brigitte
 Louise
Apresentação
Esta é uma entrevista fora dos  moldes tradicionais. O nosso entrevistado encontra-se enfermo, tem os movimentos limitados e fala com dificuldades.Contudo, essas restrições não são totalmente impeditivas, o Professor Luís tem boa visão, excelente audição e, o mais importante , está em pleno gozo de sua capacidade intelectual. Dentro desse quadro, evitamos perguntas que pudessem exigir respostas mais discursivas, e, para trazer à tona aspectos relevantes de sua vida que pudessem exigir respostas mais elaboradas, contamos com a ajuda de sua sobrinha Brigitte e de seu amigo Eduardo Jenner, este um ex-aluno no Colégio Dom Cabral de Campo Belo. Com a ajuda deles, o Professor Luís nos relatou aspectos importantes de sua vida com poucas, mas significativas palavras.

Os dois entrevistadores, conselheiros do Blog, tiveram  semelhante impressão  desde o primeiro contato com o Professor: havia ali a presença de um espírito forte sustentado pela figura de um homem inteligente e realizado. Nenhuma de nossas fotos pôde captar, em sua inteireza, essa força, mas ela se manifesta na vivacidade de seu olhar e, sobretudo, num sorriso discreto que ilumina  sua face com uma expressão de serenidade, a dignidade mora ali em grandeza substancial. Num determinado momento da entrevista, como se quisesse deixar isso bem claro para nós, chamou sua sobrinha e, com dificuldades, disse-lhe baixinho ao ouvido: "Diga-lhes que sou abençoado"... "Muito feliz". E, como que para nos indicar a causa, completou: "sou um homem muito religioso".

Durante a nossa visita, houve uma pequena interrupção da entrevista para que o Professor pudesse receber alimentação parenteral. Uma casual evidência de que ele dispõe de recursos e amigos em favor da saúde e bem-estar dele e de sua esposa Emília, esta acamada. Adota-se  o rodízio de enfermeiras e secretárias do lar e, quando necessária, é chamada a assistência ambulatorial especializada em Mal de Parkinson e Tireoide. A localização de sua casa, na região central de Poços de Caldas, facilita o atendimento em domicílio para que lhe prestem os serviços e cuidados de que necessita, evita-se, assim, a internação hospitalar para eventuais recaídas de menor gravidade.

Um pouco antes do término da entrevista, numa surpreendente demonstração de sua capacidade de atenção para com as visitas, o Professor Luís chamou suas auxiliares e mandou que nos servissem  café com bolo de milho e pão de queijo, o que,  como bons mineiros que somos, não dispensamos. Noutro momento, fez um gesto muito eloquente enquanto apontava para o piso e dizia alguma coisa em voz baixa, sua sobrinha Brigitte interpretou-o: "ele está dizendo que quer visitas", o Professor concordou com um movimento da cabeça que não deixava dúvidas quanto ao asserto dessa versão. Prometemos, em nosso nome e de todos os ex-seminaristas, visitá-lo sempre que possível. 
Mostrou-se prestativo em se deixar fotografar, e, no dia seguinte, em nos ceder algumas fotos de seus arquivos.


A alegria com que nos recebeu e a emoção com que nos viu partir contagiaram-nos. 

Perfil




Professor Luís Fransen e Emília Fransen (foto de 1986)

Família: casado com Emília Fransen (89), tem fortes laços com a sua família holandesa através de sua sobrinha Brigitte que se considera como uma filha.

Hobbies:
  • Música clássica;
  • Poesia;
  • Esportes em geral; caminhadas, em especial;
  • Viagens pelo Brasil (Prefere cidades históricas).
Residências no Brasil:

Belém - PA: 1953/1954;
Campo Belo - MG: 1954/1963;
São Paulo - SP:1964/1986;
Poços de Caldas - MG:1987


Perguntas específicas

Professor Luís Fransen com os Crúzios, foto
dos anos 1960


Blog Que fatos são inesquecíveis em sua vida?

Professor Luís Fransen:
  • Primeira comunhão quando eu tinha 5 ou 6  anos;                                                 
  • Minha formatura no Colégio;
  • Minha Ordenação Sacerdotal;
  • Meu casamento com a Emília. 


Blog —  Que recordações o senhor tem do tempo em que era Professor no Colégio Dom Cabral? Alguma lembrança da Escola Apostólica Santa Odília?

 Professor Luís Fransen —  Tenho boas lembranças daquele tempo. Gostava muito dos meus alunos, mas  não me lembro de nomes de ex-seminaristas porque não dava aulas específicas para os seminaristas.



 Blog — O senhor teria algum conselho para os jovens que querem entrar na vida religiosa como sacerdotes?

Professor Luís Fransen —  Posso dizer que a vida religiosa é tudo e que a vida como sacerdote foi muito importante para mim . Mas é muito difícil dar conselhos para os que querem seguir o sacerdócio , pois já faz muitos anos  que eu saí da vida eclesiástica e não me sinto à vontade para aconselhar a esse respeito. Mas quero destacar: sou muito religioso.


 Blog —  O que o senhor destacaria na sua vida?

Professor Luís Fransen —  Considero-me abençoado e feliz pelo que fiz de minha vida e pelas oportunidades que tive de repartir o meu conhecimento com meus alunos. Tenho um casamento muito feliz e trabalhei duro na Cultura Inglesa de São Paulo.

 Informações prestadas por Eduardo Jenner:


Eduardo Jenner
(Set/2011)


Blog — Como você conheceu o Professor Luís e como é o  seu relacionamento com ele?

Campo Belo, anos 1960
Foto: cortesia de Rodolfo
Rodarte

Eduardo   Em 1958, quando eu iniciei o curso ginasial, nossa turma foi transferida para o prédio novo do Colégio Dom Cabral, foi o primeiro ano em que o Ginasial funcionou no prédio novo...  Eu fiquei conhecendo o professor em 1959. Naquele ano ele foi meu Professor no segundo ano ginasial, ele lecionava História e Geografia... Eu sentava na carteira da frente, da janela para a porta da entrada da sala, na segunda fila. Eu tinha um pequeno problema de audição e ficava sempre na frente, dada a qualidade das aulas do Professor que me prendiam muito. Ele me dava bastante atenção e eu me tornei seu admirador desde que assisti a sua primeira aula. Passados alguns anos, eu precisei sair de Campo Belo para iniciar a minha vida profissional, isso em 1962, depois de fazer o primeiro científico no Dom Cabral e o Tiro de Guerra em Campo Belo. Fui, então, para São Paulo e consegui um emprego no Banco de Crédito Real.  O motivo de eu estar fazendo essa explanação é para frisar que, de 1963 a 1966, o Professor e eu saímos de Campo Belo. Eu saí para um lado e ele para outro, ambos buscando suas opções de vida.  

 Blog  E como suas vidas se cruzaram novamente?

 Eduardo Cheguei a Poços de Caldas em 1986 e o professor chegou, já aposentado, em 1987. Eu vim a me aposentar em 1992. Com a aposentadoria, nós passamos a conviver mais.


 Blog Como foi esse reencontro?

Carteira de 1987


Eduardo Foi casual, eu morava relativamente perto dele, nos encontramos no caminho de uma leiteria que existia perto de nossas casas.  A partir daí ocorreu  a nossa reaproximação e quando eu me aposentei, em 1992, ele convidou-me para alguns passeios às cidades históricas. Ele queria verificar "in loco" aspectos de seus estudos de História e Geografia. Visitamos, então, algumas cidades históricas.  Fizemos de cinco a seis viagens, saíamos na segunda-feira e voltávamos na sexta. Foi um fantástico e rico período de nossas vidas.  E à medida que os anos foram passando, o nosso material foi se desgastando (pelo gesto que acompanhou sua fala, o Eduardo refere-se, neste trecho,  ao desgaste físico), o envelhecimento veio, e, ultimamente, nós estamos (plural de modéstia) dando a assistência que você acabou de perceber: um profissional da área de saúde vem dando um apoio para ele, ajudando com a alimentação parenteral. Atualmente eu convivo mais com ele de que com minha família de Campo Belo, meus irmãos, os quais moravam lá, já se foram...

Blog Parece-nos que não se trata de uma relação profissional, mas de uma convivência entre amigos, é isso mesmo?

Eduardo Amigo, amigo... desprendimento, afetividade.  (Aqui Brigitte fez um aparte, dizendo: "para nós da família do Luís, é muito importante o que o Eduardo faz, porque não podemos fazer o que ele faz...")

Blog — Você sabe por que o professor escolheu Poços de Caldas para morar depois que se aposentou?


Poços de Caldas, vista parcial, Set/2011


Eduardo  — O porquê não posso dizer com certeza, mas sei que não foi uma decisão casual, ele viajou a várias cidades  do Sul de Minas e escolheu Poços de Caldas.


 Blog Vocês mantêm contatos com Eduardo?(essa pergunta foi dirigida a Brigitte, mas foi o Eduardo quem respondeu primeiro)


Eduardo Sim, por correio eletrônico, nós temos passado as necessidades dele para a família na Holanda e, agora, para a Brigitte na Bélgica, pois, com a morte da mãe dela,  é ela quem cuida dos assuntos do Tio. A família tem feito um trabalho muito importante, está sempre presente nestes últimos cinco anos.

Brigitte: (referindo-se ao  seu  relacionamento com o seu Tio Luís): nós temos uma relação muito carinhosa, muito boa para mim também... É uma troca em que nós dois somos beneficiados.



Informações prestadas pela sobrinha do Professor, a Senhora Brigitte Marie Louise Kuijpers van den Assem

Brigitte

Blog — Brigitte, gostaríamos que você falasse um pouco de você e de sua família? 

Brigitte Sou filha da irmã mais velha do Luís. Eu  tenho cinco irmãos, ou melhor, dois irmãos e três irmãs. O Tio Luís tem, também, cinco  irmãos (um irmão e quatro irmãs). Eu vivo na Bélgica há um ano, casei-me com o Hans e, infelizmente,  não tenho filhos.

Blog Por que você, e não outro da família, cuida de seu Tio?

Brigitte — Minha mãe ajudava ao Tio Luís, da Holanda. Depois que minha mãe morreu, há dez anos, eu substituí minha mãe e sou como se fosse uma filha do Tio Luís. Eu já estive no Brasil por seis meses, em 1976-77. Viajei por todo o país e nos intervalos, entre um passeio e outro, eu ficava, por algum tempo, com meu tio e tia. É por isso que eu os conheço melhor do que os outros membros da família o conhecem.


Blog Você vem com frequência ao Brasil?
Brigitte    Em 1976 tive que viajar sozinha no Brasil durante seis meses. Em 2008, meu marido e eu viemos ao Brasil e fizemos uma viagem ao Pantanal, a São Paulo, a Brasília, ao Rio de Janeiro, às Cataratas do Iguaçu  e  a Poços de Caldas;  em 2009, fiz um trabalho voluntário na Santa Casa por quase três meses; em 2010, vim a Poços de Caldas com meu marido, ficamos algumas semanas aqui; em 2011 estive  aqui em Poços de Caldas duas vezes, primeiro em maio, quando meu Tio ficou doente, depois,  agora em setembro, por mais dez dias.


Blog — Como você aprendeu português, praticando ou estudando?
Brigitte Aprendi algumas palavras quando estive no Brasil, em 1976, mas depois estudei Português na Holanda, e, pratico  quando venho aqui

Blog: — Qual é sua profissão?

 
Brigitte Eu sou formada em Business Administration (Administração de Empresas). Quando falo Business Administration ninguém  aqui  entende. Estudo também Health Science (Ciência de Saúde). (Eduardo fazendo um aparte: “desta vez ela ficou aqui em Poços de Caldas mais tempo e vai embora depois da amanhã. Está trabalhando e se aperfeiçoando em hospitais daqui”).
Blog Fale um pouco sobre o Professor Luís.

Professor Luís Fransen em seu escritório (foto de 1997)


Brigitte Ele é um intelectual, poliglota, tradutor, está sempre estudando, gosta muito de ler (Eduardo esclareceu que de três meses para cá o Professor tem dificuldades na leitura por causa da limitação dos  movimentos).

Blog — O Professor viaja muito para a Holanda?

Brigitte —  Poucas vezes. Parece que ele foi lá quando morava ainda em Campo Belo. Depois, ele foi  única vez na Holanda com a Emilia para visitar a mãe. Foi no anos de 1976


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Poços de Caldas, Minas Gerais, Brasil, 20 de Setembro de 2011