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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Cartas easistas - carta de Bessa para José Geraldo



Antônio Araújo Bessa nos
anos 1960.

José Geraldo Freitas Oliveira nos anos
1960


"O Marquinhos também abandonou o seminário; o Sebastião Coelho, o Dirceu e mais outros da Admissão" 










sábado, 22 de janeiro de 2011

Crônica: a vida no seminário (Ipsis litteris)


CRÔNICAS
(Janeiro e fevereiro de 1960)

   Como o tempo e a oportunidade me permitem, começarei narrando um acontecimento muito digno de menção, principalmente para nós, os seminaristas: o nosso regresso dos queridos lares, cujo carinho nunca podemos esquecer, para um outro lar onde todos os jovens sonham com o grande ideal de pertencerem um dia à comunidade dos sacerdotes, serão bem recebidos.
   Nesse inesquecível dia de regresso, houve uma cena  tão sentimental e comovente como nenhuma outra realizada entre aquêles pais e respectivos filhos que viram as costas a um ambiente tão carinhoso e confortável e se dirigem para o seminário para aí cultivar em si a árvore da ciência e se preparar para mais tarde despertar do êrro aquêles que vivem mergulhados sempre no sono da ignorância e instruir os cegos de  espírito.
    Imaginemos aquêle espaço de tempo em que pais, filhos e demais parentes se abraçavam longamente, já na hora da partida. Então, depois dêsses instantes, tão prazerosos, um grande silêncio vem esmagar e sepultar aquêles gozos e todos voltam para casa com o coração carregado de saudades e tristezas.
   Estamos no seminário há mais de um mês. È incrível que  ainda nos restem vestígios da saudade de casa. Ainda não pudemos esquecê-la de todo. Para isso são necesários mais alguns mêses.
   Muitos perguntarão a si mesmo: "que será que êstes meninos fazem no seminário durante êsses dois mêses de férias?
   Meus amigos, leiam a minha resposta e  ficarão sabendo o que aqui fazemos, o que lhes será uma surprêsa. Durante êstes dois mêses não ficamos atôa um instante sequer. Fazemos  passeios pelos campos, que parecem um pouco com piqueniques, mas não são bem isto.  Nesses passeios deixamos o mato completamente limpo de frutas. Somos iguais a um bando de catitú quando entra numa lavoura de mandioca. Já provamos de todas as frutas que existem nesses matos daqui.
   Fomos algumas vêzes a uma tal "Usina Velha" para nadar e voltamos com um sortimento de frutas que durou muitos dias. Fomos também a "Vila Vicentina" de Campo Belo,  onde há muitos doentes inocentes, com os quais nos divertimos bastante. Não nos devemos esquecer do Pe. Alberto que dedica tôda sua vida aos doentes.
   Certa vez, quando voltávamos de um dêsses passeios, aconteceu um caso muito gozado comigo. Foi o seguinte: estava o sol Campobelense recolhendo seus últimos raios. Íamos andando por uma das belas ruas da cidade deliciando-nos com o frescor do crepúsculo quando deparamos com uma "furreca", cujo motorista estava preocupadíssimo e não sabia o que fazer. Lamentava-se de que sua "furreca" tinha afogado ao subir o morro.. Como já lidei alguns  anos com um motor de luz, posso assim dizer que tenho alguma experiência sôbre êste assunto. Convidei-o para queimar as velas que talvez houvesse jeito. Parece-me que êle não sabia o que eram velas. Pedi-lhe, então, uma chave para arrancá-las, mas êle respondeu que não havia. Resolvemos então empurrar a furreca, mas não houve jeito. Já estávamos quase deixando o pobre homem no mesmo  estado, quando chegou, por acaso, um caminhão com dois mecânicos. Um dêles examinou o carro e logo verificou que não havia gasolina. O dono disse  que havia pôsto gasolina havia poucos instantes. Mas em vez de tê-la colocado no tanque apropriado, êle a tinha pôsto no tanque de reserva.
   Dia 2 de fevereiro houve uma grande festa na Ordem da Santa Cruz, quando o primeiro seminarista crúzio brasileiro, José Maria, natural de Belo Horizonte, fêz a sua profissão religiosa. Essa profissão consta dos votos de pobreza, obediência e castidade. Isto aconteceu em Leopoldina onde está o nosso seminário maior.
   Os novatos (8) chegaram dia 28, chegada essa que muito nos preocupava, pois estávamos esperando desde o dia 24, mas só chegaram no dia 28 às seis da manhã, por trem. Quando saímos da capela depois da meditação e fomos ao dormitório para arrumar as camas, encontramos-nos com êles sentados nas malas, cansados e com muito sono, pois tinham viajado durante a noite inteira.
   Foi nomeado diretor do ginásio o Pe. Justino, pois o antigo Pe. Humberto, foi para Belo Horizonte a fim de restabelecer-se da doença que  o prostou no ano passado. Agora já está tudo arrumado e desde poucos dias começamos a fazer fôrça com os estudos, cada vez mais pesados.
                                                               Antônio Araújo Bessa, 1o. Cláss.


Carraro: Ah! ah....
Seoldo: Por que ris tanto?
Carraro; É porque Vicentão disse-me que andou 10 Km. à cavalo, e no fim estava morto de cansaço e suava mais do que o animal.
Seoldo: Puxa! O sol devia estar bastante quente.
Carraro: Ah! Ah! Não; é porque o cavalo dêle era de pau, ah, ah!
Vicente: Ô sô bobo; isto foi um sonho que tive, ontem no estudo.










Marquinho
Você acredita que os homens chegarão  a ver os astros de perto?
J. Geraldo: Pois se eu ontem na rua, com o dia claro, sem querer vi muitas estrêlas e        ainda um galo que cantava bem ao norte da lua, quando esbarrei com um poste!!

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

O reboliço da cidade (Ipsis litteris)


O REBOLIÇO DA CIDADE
   Os veículos se cruzam nas ruas, cheios de passageiros; as locomotivas vomitam fumaças obtendo pressão capaz de as pôr em movimento para realizarem seus cursos; somos incapazes de dormir uma noite inteira sossegadamente, na cidade.
   Na madrugada êsses barulhos picantes e aborrecíveis, começam a bater de novo em nossos ouvidos, fazendo um zum-zum como dum enxame de abelhas.
   Os veículos quase voam; os homens andam às carreiras em busca daquilo que não lhes dá a vida (espiritualmente falando): o luxo, o orgulho que é uma consequência do primeiro e sempre mais preocupações.
   Alí, uma pessoa é atropelada; lá, uma casa arde em chamas; mais adiante, dois carros entrechocam-se. Assim dão-se acidentes a cada instante.
   O andar desenfreado dos carros, os silvos das sirenes, o vozerio dos ruídos das fábricas, fazem um barulho ensurdecedor.
   Agora falo com o silêncio. Oh silêncio, onde estás?  Por que foges da sociedade, que deves implantar-te? É devida à tua falta que os erros estão enraizando-se nos cérebos humanos. Bem sei que não és tu que foges! Não tens vidas, nem corpo, nem qualquer outro dom. És inanimado! És impercebível! Os homens é que  te abandonam; não crêem em ti; não querem "perder tempo" contigo. Coitados dêles! Não sabem que sem  ti não há paz na sociedade, não há vida espiritual, que é a mais importante para todos nós. Por isso, os homens sempre andarão errantes porque  só em ti encontram a paz que deverá existir no lar, na sociedade em todo o orbe. Esta paz é o Cristo que está sendo esquecido pelos homens, por quem deveria ser muito mais amado, pois êstes são as principais figuras dêste mundo. Sem Cristo nada podemos levar à frente. Não se constrói um edifício sem o alicerce, nem o alicerce sem o tijolo, nem o tijolo sem o barro e nem se tería  o barro se Cristo não tivesse formado os elementos de que é composto. Cristo é a cabeça  e nós os membros.
    Um braço desligado do corpo nada fará, assim como um galho separado da árvore secará por falta de alimento que lhe vinha do chão por meio da árvore.
   O funcionário chega em casa já de noite, cansado, ofegante, com a roupa úmida de suor e com o corpo quente, porque suas veias e músculos estão muito excitados, e cospe palavrões maldizendo a árdua vida; verbera o patrão de ladrão de seu tempo, e chega a blasfemar até contra Deus. Em seguida êle janta, ouve alguns programas de rádio, e vai estirar-se na cama, fechando as pálpebras para gozar das delícias de um sono.
   Mas, eis que a aurora já vem acordando tudo, abrindo-lhe os olhos e pondo-lhe em movimento. E o sol nem bem deitou seus infindos raios sôbre as cumeeiras das casas, quando o homem já anda em busca do pão de cada dia.
   Assim é hoje em dia a vida agitada do homem,  esquecendo-se que em Deus sòmente se encontrará a verdadeira paz, e de que só se encontrará Deus no silêncio.
                                                       Antônio Araújo Bessa
                                                                4ª. serie

sábado, 15 de janeiro de 2011

Crônicas: estão de férias os seminaristas (Ipsis litteris)

      O REPÓRTER CRÚZIO
Escola Apostólica Santa Odília. Campo Belo,
Minas Gerais
Ano I              Agosto de 1958                                                                  No. 4
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CRÔNICAS
       Estão de férias os seminaristas da Escola Apostólica Santa Odília.
       Mas o nosso seminário é diferente dos outros, porque durante estas férias (meio do ano) os seminaristas em geral estão em casa e o seminário permanece num verdadeiro silêncio e em completa escuridão. Enquanto o nosso vive um tempo feliz, todo cheio de alegria, porque continuamos nele, ansiosos, com as orelhas “bem em pé”, para ver se ouvimos falar em algum passeio às fazendas, para chupar laranjas, ou passar alguns dias em outra cidade.
       O mais interessante durante as férias são aquêles montinhos de seminaristas, sentados no chão ou em frente da sala de recreio, conversando sobre diversos assuntos. Se a agente quiser que passe ligeiro o tempo, é só fazer êsses montinhos. É aí que se ouve um Português falado de diversas maneiras. Durante esse tempo, pode-se fazer um dicionário de muitas e muitas páginas, mas em que cada palavras só há um significado, e, empregado ainda no sentido figurativo. E olhe lá! Para interpretá-la, precisa-se pensar bastante. Uma vez, falando um padre de poços artesianos, que estavam cavando na cidade, um da turminha dos que estavam sentados, perguntou onde estavam êsses poços “salesianos”. Outra vez, falando-se de escrever à máquina de datilografar, disse que queria aprender “tocar” máquina. Isto é até muito bom, para a gente rir e descansar um pouco a cabeça dos estudos.
— Zé, o que aconteceu naquela fazenda aonde fomos chupar laranjas?
— Houve um caso muito interessante.
— Qual foi?
— Ora, mané, vou contar-te.
       Havia nessa fazenda um pé de laranjas muito boas, que a Dona Maria nos proibiu de chupar. Então, o Pe. que foi conosco, que gosta muito de brincar, disse-nos que não mexêssemos na árvore proibida, senão iríamos “expulsos do paraíso”. O chico, que “não é sopa”, tirou uma laranja da árvore proibida e o Pe. começou a correr atrás dele, para tomar a laranja e expulsa-lo, mas o “Adão” correu muito e o Pe. não o alcançou. Isto foi uma farra no paraíso.
— O que houve mais de importante?
— Dona Maria nos disse que havia um lago, lá para trás da casa, no qual ela achava que a gente podia nadar. Juntamo-nos todos, cada um com o seu saco de laranjas, e fomos ver se ele era bom para a gente nadar. Ninguém viu o fundo do lago, porque era muito sujo, mas, assim mesmo, uns três ainda nadaram. Muitos outros não nadaram porque não levaram calção. Só alguns pequeninos, viciados em futebol, que já andavam de calção.  
       Quinze dias de férias em Santana: de onze a vinte e cinco de julho. Que dias felizes! Êstes foram vividos e sentidos por nós. Não desperdiçamos um só minuto. Êstes nos deixaram mais novos, com mais disposição e com mais coragem para enfrentarmos as aulas e para continuarmos a caminhar nesta estrada tão longa e tão difícil, em busca do ideal, maior e o mais sublime: o sacerdócio. Mas, depois que alcançarmos esse ideal, seremos os heróis do mundo.
       Só houve uma coisa que não preocupou as nossas empregadas em Santana: arranjar água para bebermos, porque não passávamos nem meia hora sem chupar laranja, e, assim, não tínhamos sêde.
       Estas férias em Santana até nos deram o gôsto pelo voleibol, que ainda não tinha brotado no nosso meio. Jogamos muito lá e foi o primeiro esporte que praticamos quando voltamos.
       Se alguém nos perguntar quais foram os passeios de que mais gostamos, é claro que responderemos logo, e sem receio de errar: foram aquêles nas fazendas em que fomos almoçar ou jantar. Olhe bem: tomamos vinho e até conhaque nessas refeições. Só faltava pinga. Quem não gostaria? Acho que ninguém ficou tonto, graças a Deus. Isso seria muito feio. Ficou-se mais alegre; quem estava com frio ficou um pouquinho de calor, sòmente.
       O povo de Santana admiradíssimo ficou conosco. Ora, tinha razão. Preste bem atenção: íamos a umas fazendas de oito até nove quilômetros de distância da cidade, para chupar laranjas. Chegando lá, chupávamos até a barriga esticar o mais que podia, e ainda cada um voltava com quase meio saco de laranjas. Pensando bem, meditando bem no assunto, somos, deveras, corajosos. O dono de uma fazenda nos reservou vinte litros de leite. Mas, ainda que cada um tomasse três ou quatro copos, não houve jeito de darmos cabo do leite. Na verdade, nossas barrigas são bem grandes mas havia muito leite; Também havia biscoito e muito. Biscoito é o que mais sobra na roça. Pode faltar tudo, mas o biscoito não falta.
       Até ao cinema fomos em Santana. Mas houve um grande perigo: numa das vezes, começou o filme e olhávamos atenciosamente para a tela, quando se nota um alvoroço dentro do cinema. Foi a força elétrica que aumento e a fita pegou fogo. Na carreira em que fomos saindo do cinema, quebraram-se muitas cadeiras; uns quebraram a perna, outros saíram machucados e um seminarista fêz um “galo” na cabeça. Para quem estava fora, foi bonito o espetáculo. O povo mergulhava da porta à estrada, como quem mergulha num rio qualquer.
       É de admirar: os queridos times de Santana não nos convidaram para jogar com eles. Acho que ficaram com muita vergonha no princípio do ano e tiveram mêdo de apanhar novamente. O time do seminário é o segundo “Galo” da cidade.
       Voltamos em paz das férias e com as graças de Deus estamos novamente estudando.
       Antes de começar as aulas, fizemos um retiro de três dias, fazendo um exame de consciência de todo o passado: se realizamos o que devíamos realizar. Três dias de recolhimento, falando só com Deus. Todo e qualquer homem precisa de silêncio.
       O retiro foi pregado pelo Revmo. Pe. Artur de Haan. Neste retiro, ele nos falou sobre as principais virtudes; algumas delas são a humildade e a caridade. Começamos o retiro com o “Veni Creator, pedindo  que o Espírito Santo nos iluminasse para fazermos um bom retiro. Terminamos recebendo a Benção Papal, dada pelo Pe. Artur. Todos nós gostamos muito do retiro, pois até pedimos que ele mesmo pregasse o próximo. O bom retiro depende de nós, pela parte espiritual, mas as pregações serão bem aproveitadas conforme o pregador.
                                 Antônio Araújo Bessa
                                      3ª. Série
Na aula
Prof:  — Qual é o  feminino de cão?
Aluno distraído: — Baroneza.
Porf:   — Qual o ato muito importante de  D. João  quando chegou no Brasil?
Aluno:  — Ato de pirataria.
Um aluno chegando em casa:
— Nossa escola não vale nada. Os professores não sabem nada. Eles perguntam tudo aos alunos.