domingo, 29 de setembro de 2013

Reflexos do V Encontro

                                                                                                                                               Por Siovani

Sempre da esquerda para a direita: no chão: Benone, Marcos Rocha, Lulu, Nicodemos, Clayton, Antônio de Ázara, o menino Otávio (na cadeira). Assentados no palco: padre José Cláudio, Edgard, Chicão, Olímpio, Santana com Laura no colo , José Geraldo, Alberto Medina,Tupy, Roosevelt, Eustáquio, Rafael, Siovani e Lua. Em cima do palco: Geísa, Cátia, Dita, Liana, Nazaré, Cecília, Marta, Catarina, Marina, Ica, Marina, Maria José e Rosimere. Foto de 21 de setembro de 2013. Local: espaço onde foram os dormitórios  dos ex-seminaristas que ali permaneceram depois de 1963.

Sexta-feira, 20 de setembro de 2013.


A estrada faz uma curva caprichosa e segue à direita para cumprir seu destino de leva e traz, mas nós a abandonamos para seguir em frente, relaxados pela sensação de alívio que nos vem quando chegamos ao nosso destino. E, novamente, este destino é Campo Belo: uma rotatória nos acolhe para nos arrancar da estrada e jogar-nos, como em passe mágico, dentro da cidade, sem aquela tão normal periferia feia e depauperada que recebe os viajantes em nossas cidades.


Naquela rotatória nasce a rua principal num ondular de subida que ainda esconde o centro da cidade. Do alto daquela ondulação a cidade irrompe em nossos olhos e afunda-nos no passado, onde a memória vai repousar.



O olhar, apagado já pelo cansaço, descortina por aquela
rua o colégio ainda lá longe. Foto de 20 de setembro de
2013 a partir do alto da Avenida Afonso Pena, Campo Belo,
Minas Gerais, Brasil

Quem ali chega agora é um menino alquebrado pelo peso da mochila, carregada de laranjas, que o empurrou por algumas léguas. O olhar, apagado já pelo cansaço, descortina por aquela rua o colégio ainda lá tão longe. O olhar corre pela rua que novamente sobe em busca do outeiro que culmina na praça central, e aquele olhar busca alento para percorrer aquela pesada subida em passos não mais tão firmes quanto na debandada da manhã alegre em que partira ávido pelo dia de fartura à frente. 


Isso tudo se passa num átimo, porque agora o carro incansável nos entrega, bem ali no meio da descida, ao Hotel Champagne. Chegamos sob o crepúsculo das seis horas, hora em que um certo ar de mistério envolve a cidade. E lá no hotel já nos recebem alguns dos colegas que também suaram por aquela rua sob a carga das laranjas e das esperanças.




Espaço Antares, um local tranquilo e agradável  onde o Santana e seus familiares haviam preparado uma bela recepção. Foto de 20 de setembro de 2013. Aparecem da esq. para a dir.: Cecília e José Geraldo; Olímpio; Antônio de Ázara e Ica; Tupy e Marina; e Liana.
Geísa recebe das mãos do Eustáquio,
o coordenador deste encontro,      um
 prêmio em louvor à competência e à
simpatia em exercê-la.  Foto de 21 de
de setembro de 2013.
Um pequeno relaxamento após a tensão da estrada em um refrescante banho e seguimos para o Espaço Antares, um local tranquilo e agradável onde o Santana e seus familiares haviam preparado uma bela recepção. Mas antes, o anjo da guarda do Eustáquio, e nosso, nossa simpática amiga Geísa, sempre presente a ajudar a organização dos encontros, recebia-nos com um crachá para cada um a troco de uma pequena colaboração para custear as despesas do V Encontro.


A lua cheia também veio nos brindar com sua presença misteriosa no horizonte e o nosso amigo Walter, o Lua Cheia, encheu-se ainda mais num sorriso de satisfação para agradecer ao Eustáquio, nosso presidente, a bela homenagem que este lhe prestava com convidada tão ilustre.



A noite que ainda nos trouxe a bem-vinda presença dos cole-
gas Clayton (2); José Geraldo (4) e Roosevelt (6). Os núme-
ros indicam a posição dos citados, a partir da esquerda.
(clique nas fotos para ampliá-las lado a lado. Fotos acopladas. 
A lua ia subindo no céu sobre a cidade e os nossos colegas, pouco a pouco, apareciam trazendo seus sorrisos e abraços na costumeira alegria que sustenta os nossos encontros e nos faz esperar com ansiedade o ano escorrer até o próximo. Enquanto nos reencontrávamos, a irmã do Santana distribuía pelas mesas deliciosos acepipes que nos fartaram pela noite adentro. Noite que ainda nos trouxe a bem-vinda presença de colegas que pela primeira vez participaram de nosso encontro, o Roosevelt, um dos primeiros seminaristas, e, dali mesmo de Campo Belo: o José Geraldo e o Clayton. Este, um colega que entrou comigo em 1964, e que me trouxe uma alegria particular em revê-lo. Ausências sentidas dos colegas de Juiz de Fora que chegariam apenas na manhã do sábado.


E também pudemos contar alegremente com a agradável presença do Padre Guilherme, representante dos antigos padres crúzios, que aceitou nosso convite para deixar Belo Horizonte e participar do nosso encontro.


Identificados e cumprimentados os encontristas, o Lulu foi solicitado a fazer uma explanação sobre o nosso blog e a mostrar como encontrá-lo na vastidão da internet. Desnecessário comentar aqui sobre esses temas, pois estáis aqui.


Maria José exibe um dos belíssimos
 livros que ganhou pelo segundo lugar
do concurso de fotos.
Flaviane, que representou a sua mãe, Fá-
tima, exibe o prêmio do primeiro lugar
do concurso de fotos: rosas desidratadas
emolduradas em pátina trabalhada.
As fotos vencedoras do Concurso de Fotos do IV Encontro estavam em exposição no recinto, e o Marcos Rocha, que praticamente sozinho promoveu, coordenou, revelou as fotos e patrocinou, fez a entrega aos vencedores da premiação. Ouvimos com prazer muitos ohhhs! de júbilo pelos belos prêmios recebidos; estes acenderam a cobiça de todos pelos futuros, o que certamente causará uma avalanche de fotos nos próximos concursos. O Tupy foi bastante alfinetado pela ausência na foto que certamente ganharia o prêmio máximo se ele estivesse presente. Ele se escusou, pedindo que culpassem a natureza, que nos faz exigências inadiáveis.
Santana, representando seu filho Jr,
recebe alguns livros pelo terceiro lugar
do concurso de fotos.
Na foto, Laura (4 anos) ao lado de 
Otávio (7 anos) em linda apresenta-
ção.
Para não nos deixarem dizer que nossos encontros são encontros de senhores de cabelos brancos e de suas respectivas senhoras, duas graças irromperam em nosso meio, o Otávio, 7 anos, já nosso velho conhecido, filho do Lua, e a Laura, 4 anos, netinha do Santana; esta também acompanhada de sua bela e simpática mãe, Flaviana. Liberado um microfone para declamações, as duas crianças roubaram a cena com desenvoltas e animadas canções que exigiam aplausos e pedidos de bis.



Catarina cantou e declamou.
Ouvimos, ainda, poemas e canções antigas entoadas pela Catarina, pela Dita e pelo Lua, que, enciumado talvez com o sucesso das crianças, declamou atrapalhadamente dois poemas, pois a Germana já estava cobrando seus vapores, e só para lembrar-lhe como é o poema que era o campeão de apresentações em nossas aulas de declamação (todos o aprendíamos de tanto ouvi-lo), eis o original:


      


Dita cantou e encantou








Lua e Germana declamam duas poesias







Visita à Casa Paterna

                              Luiz Guimarães

Como a ave que volta ao ninho antigo

Depois de um longo e tenebroso inverno,

Eu quis também rever o lar paterno,

O meu primeiro e virginal abrigo.


Entrei. Um gênio carinhoso e amigo,

O fantasma talvez do amor materno,

Tomou-me as mãos, olhou-me grave e terno,

E, passo a passo, caminhou comigo.


Era esta a sala... (Oh! se me lembro! e quanto!)

Em que da luz noturna à claridade

Minhas irmãs e minha mãe... O pranto


jorrou-me em ondas... Resistir quem há-de?

Uma ilusão gemia em cada canto,

Chorava em cada canto uma saudade.  



O Seoldo, mesmo permanecendo em sua longínqua morada, não podia faltar ao nosso encontro, por isso tratou de contratar uma transposição bilocal com destino a Santana do Jacaré, mas com escala em Campo Belo. E, assim, com o corpo acomodado, sem fazer nada, em uma piscada de olho estava incorporado na voz potente do Marcos Rocha e falou (a caixa alta, pelo que pude apreender, foi para simular a voz potente):



AMIGOS COLEGAS EASISTAS,


Marcos Rocha vestiu o pensamen-
to do Seoldo com sua potente voz
de veludo. 
QUE TENHAM UM BOM ENCONTRO E SE COMPORTEM DIREITINHO, SOBRETUDO EM SANTANA DO JACARÉ! ESTAREMOS (JUDITE E EU) AÍ  EM PENSAMENTO COM VOCÊS. ABRAÇOS E LEMBRANÇAS A TODOS!


SANTA ODÍLIA (SO), O VELHO SEMINÁRIO

MISTURADO COM COLÉGIO DOM CABRAL

SOLTOU NO MUNDO UM GRUPO VISIONÁRIO

BUSCANDO SEMPRE O CAMINHO PRINCIPAL


NO SANTA ODÍLIA SÓ SE PENSAVA NO FUTURO

NO SANTA ODÍLIA SE REZAVA PRA CHUCHU

NO SANTA ODÍLIA, TUDO VERDE, TUDO PURO

ARROZ, FEIJÃO, ANGU; ÀS VEZES, TUTU


NO SANTA ODÍLIA ERA TUDO ORGANIZADO

NO SANTA ODÍLIA SE ESTUDAVA COM PRAZER

NO SANTA ODÍLIA NADA ERA DECORADO

NO SANTA ODÍLIA SE COMIA PRA VALER


NO SANTA ODÍLIA SE TRADUZIA O LATIM

NO SANTA ODÍLIA SE CANTAVA NA CAPELA

NO SANTA ODÍLIA ERA SÓ CAMA DE CAPIM

NO SANTA ODÍLIA NÃO SE FICAVA NA JANELA


NO SANTA ODÍLIA HAVIA HORA PARA TUDO

NO SANTA ODÍLIA O MELHOR ERA O RECREIO

NO SANTA ODÍLIA ROUPA LIMPA, NÃO BARBUDO

NO SANTA ODÍLIA ERA SÓ DEZ OU NOVE E MEIO


NO SANTA ODÍLIA SE ABAIXAVA A CABECA

NO SANTA ODÍLIA A CABEÇA NÃO CAÍA

NO SANTA ODÍLIA ERA SÓ DEUS OBEDEÇA

NO SANTA ODÍLIA TODOS FILHOS DE MARIA


NO SANTA ODÍLIA ERA POUCA A PORCARIA

NO SANTA ODÍLIA NINGUÉM ERA DESBOCADO

NO SANTA ODÍLIA NAO HAVIA CORRERIA

NO SANTA ODÍLIA O RUIM ERA O PECADO
Seoldo e Judite, os mais presentes dos
ausentes. Foto de setembro de 2012 


NO SANTA ODÍLIA CADA UM COM APELIDO

CANHÃO, MAMONA, PICOLÉ, CUTIA

PIGMEU, QUADRADO, PACU, ESPRIMIDO

NO FIM, TODOS FILHOS DE MARIA!


O SANTA ODÍLIA ERA COMO FORMIGUEIRO

NO SANTA ODÍLIA TUDO ERA MARCADINHO

NO SANTA ODÍLIA SEMPRE HAVIA BISCOITEIRO

O SANTA ODÍLIA', NO FINAL, FOI NOSSO NINHO.


(Easista Seoldo, Setembro de 2013, V ENCONTRO)



E a noite ia correndo em conversas animadas, e a Germana corria nas gargantas secas de tanta fala, e, então, o inevitável! O matreiro Baco fez questão de mostrar sua personalidade na voz mais rascante de alguns que insistiam em afrontar os seus poderes, e então... Então nada, tudo correu maravilhosamente até que fomos em busca de uma cama para deitar nosso cansaço. E depois me disseram que os últimos só partiram cerca de uma hora da madrugada. E boa noite a todos, até amanhã.



Sábado, 21 de setembro.


As poucas horas de sono não foram, como de costume, impedimento para o despertar com as primeiras luzes do dia, que nos trouxeram o chilreio inconsequente dos pássaros e o matraquear insolente das maritacas em bando. À espera da hora para as atividades do dia, restei-me na cama a ver o belíssimo filme de Jean Cocteau, Orpheu, onde o poeta dedilha imagens inusitadas sobre o outro mundo, que pode ser penetrado através dos espelhos, portas que são para aquele mundo; esquisita e bela metáfora para o nosso caminho indelével pelo tempo que podemos contemplar nos espelhos. Porém, sem me ater ao lado sinistro, estava eu do outro lado do espelho, percorrendo um caminho inverso rumo aos meus dez anos, quando cheguei em Campo Belo, com ainda todo o mundo criado na minha infância a me suster. E por aquele espelho podia eu contemplar aquele mundo a ruir e sobre as ruínas ver nascer um outro mundo, carregado de dúvidas e insubmissões.


O padre Wilson celebrou a missa ajudado pelos padres José
Cláudio e Elione.
Mas às dez horas tínhamos novo compromisso. Descemos para o café onde já nos reencontramos com diversos easistas (esta palavra foi criada pelo Seoldo ou Marcos Rocha para referir-se a nós, ex-seminaristas da Escola Apostólica Santa Odília, EASO, e também passo a adotá-la). Dirigimo-nos, em seguida, para a Igreja da Santa Cruz, onde os novos padres crúzios fariam uma missa para o grupo. Para isso vesti-me com o meu mundo dos dez anos, mas naquele mundo havia uma transição, os padres ainda não estavam nos altares completamente de frente para nós, o latim ainda não havia sido esquecido e um sentimento sisudo e silencioso do sagrado era acolhido nas igrejas. Sem nenhum saudosismo, apenas constatando a mudança, a criança percebeu que os novos padres não preservam aquela aura sagrada em que ela fora criada e ensinada a respeitar. Muda o mundo, mudam os indivíduos; as catedrais não precisam mais contar histórias nos seus vitrais e nas suas paredes, substituídas pelo ferro bruto das ondas da nova mídia. O padre de hoje veste-se como nós, nada o diferencia, seu poder mítico está soterrado junto com o latim.

 

Durante a missa chegaram os easistas de Juiz de Fora, e como o Padre Wilson, que celebrava ajudado pelos padres José Cláudio e Elione, conclamara-nos a trocar votos de paz, de repente a igreja se viu envolta em confusão de abraços e votos que também serviram como efusiva recepção aos que chegaram. A alegria foi enorme, envolvida pela música que o coral, que acompanhou a missa, entoava.


Tupy  entrevista o Padre Guilherme.
Comungados os que tinham fome, insaciados os que não puderam, a missa terminou e o Tupy requisitou a presença, ali mesmo na capela, do Padre Guilherme para uma entrevista. As perguntas já haviam sido anteriormente enviadas aos padres de Belo Horizonte e suas respostas foram lidas, e depois acrescidas com comentários do padre ali presente. Ficamos sabendo ou fomos relembrados da história dos crúzios no Brasil: porque vieram, as dificuldades encontradas e a superação de tudo. Mas essa entrevista será publicada posteriormente aqui neste blog.


Finda a entrevista fomos convidados a visitar as obras do convento, ali ao lado da igreja, onde nos aguardava uma caipirinha e um sol de meio-dia que preocupou os destelhados, assim como eu, que não têm a proteção natural dos cabelos, pois era a primeira exposição ao sol primaveril nesta temporada. As obras estão apenas nas fundações, mas o entusiasmo do Padre Wilson nos mostrava os dormitórios, a cozinha e todas as dependências futuras do convento. E o Nonato, que tem na barriga um relógio a vácuo, que dispara um alarme estrondoso quando sua hora chega, já circulava nervoso pedindo o cumprimento da agenda sagrada do almoço em atraso.


Os novos padres crúzios também nos ofereceram um almoço
Os novos padres crúzios também nos ofereceram um almoço servido onde antes foram nossos antigos dormitórios, espaço agora transformado em um salão de eventos do colégio. Após o almoço o Padre Wilson nos exortou novamente, pois lá em Nova União já tinha lançado a ideia, a participar no esforço da obra na campanha “Um milhão de amigos" de colaboradores, apelo que não precisaria ser feito para lembrar-nos que somos gratos àqueles antigos padres crúzios que nos sustentaram por alguns anos e nos propiciaram os estudos gratuitos. As camisetas da campanha foram rapidamente adquiridas pelos presentes.


Tarde livre, a programação do encontro nos chamava para um jantar em uma churrascaria nova, recentemente inaugurada. As nossas mesas unidas ocuparam toda a extensão do local e as conversas animadas distraíam os aborrecimentos causados pelo churrasco servido; digna de nota, apenas a muçarela, da qual ouvi elogios. Mas nada é suficiente para causar-nos dissabores quando estamos reunidos; com bom churrasco ou não, nossa festa está garantida. E a noite também foi se alongando e retornamos para o hotel quase à meia-noite.



Domingo, 22 de setembro.


O dia amanhecia com a promessa de um belo passeio a Santana do Jacaré, cidade onde as turmas mais novas faziam piqueniques e onde os mais antigos passavam parte de suas largas férias. Porém, como o Seoldo já nos antecedeu com uma crônica deliciosa sobre a cidade, remeto-vos, aos que ainda não a conhecem, a ela, com a promessa de boas gargalhadas (crônica publicada neste blog em 2 de agosto de 2013: Férias em Santana do Jacaré); e por aqui vou limitar-me ao nosso passeio.


Antônio José Ferreira, o Santana, quando anunciava: "Agora
vamos passar por..." (já havia passado -- rs rs rs)
Saímos do hotel num ônibus que, se humilhava a jardineira lá de Nova União por seu porte, não contagiava a todos com a mesma galhardice. Santana, não a cidade, mas o Antônio José que lhe herdou o nome, foi intimado a se fazer de cicerone. Ele bem que tentou, mas quando ele anunciava: "agora vamos passar por...", invariavelmente estava atrasado: "Ah, já passou!". Até que uma deu certo, quando ele anunciou que íamos passar por uma fazenda de confinamento de gado que existia no lado esquerdo da estrada. Foi apressado e com satisfação que o Otávio gritou: "O lado esquerdo é meu". Foi seu pai quem nos contou que, para distraí-lo nas viagens, eles faziam apostas sobre quem avistava mais bois, cada um com um lado da estrada.


E chegamos às margens do Rio Jacaré, que tantas recordações deixaram nos easistas. O Otávio, para consolar o pai, disse-lhe que contou oito bois no lado direito da estrada, portanto, o placar deve ter ficado cerca de 299 a 8. Abriu-se uma porta, a do ônibus também, para uma sessão de fotos com o rio indiferente posando preguiçosamente ao fundo, mal sabendo que era o personagem principal de toda a história. Ainda tivemos tempo de perceber que além do saber cachaceral, o Lua entende também, quem diria, de água, pois nos deu uma aula sobre a maneira de tirar a areia do rio para desassoreá-lo. E assim os nossos encontros também nos enchem a cada dia de mais saber e cultura.


Mãe de Toinzé, Margarida Barbosa Diniz: a graça, a simpatia
e a dignidade estampadas em seus cabelos brancos imaculados. 
Santana do Jacaré é uma pequena cidade do tipo que o nosso cicerone nos mostrava: "Vejam ali... Ah! Já passou!", mas, além do rio, conta com uma família acolhedora que nos recebeu com prazer extremo, apesar do cansaço que lhe levamos. A primeira acolhida foi da própria mãe do Toinzé: a graça, a simpatia e a dignidade estampadas nos seus cabelos brancos imaculados. E, aos poucos, toda a família foi surgindo, a Laura e sua mãe, outro filho, a esposa Fátima, que por motivo de saúde não comparecera em Campo Belo, irmãos, sobrinhos e papagaio.


O Ibama levou os jacarés,
ficaram as miniaturas e o
nome da cidade. 
A história registra que Santana do Jacaré teve dois jacarés, que o povo da cidade tratava com as tripas de galinhas, pois das carnes os jacareenses é que se fartavam, mas, mesmo assim, conta-se que um jacaré comeu a pata do outro, que ficou manco. Os dois cascudos viviam satisfeitos secando a pele ao sol na beira do rio até que, num belo dia daqueles em que as autoridades levantam com a vontade férrea de fazer o bem prevalecer, o Ibama levou os judiados bichinhos para seu abrigo aconchegante, onde, sem nenhum exagero, os pobres morreram três dias depois, e, assim, Santana só não perdeu o jacaré do seu nome, mas eles deixaram muitas lembranças espalhadas pelas paredes da cidade, jacarezinhos em miniaturas, com hábitos noturnos.


Mas, como acabam as boas histórias, 
a mocinha (Ica) e o mocinho (Ázara)
mostraram a que vieram.

Ninguém reclamou da demora da banda, o papo ali na praça seguia animado, mas a aflição do Toinzé foi grande. Se a banda vem... A banda não vem... A banda vem, vamos ver a banda; se não vem, é porque foi ligeirinha: "Olha a banda! Ih, passou!". E porque todos estávamos mesmo à toa na praça, a banda passou e chegou; não só a banda, o terno de congado também. A alegria se espalhou pela praça, e, muito além da alegria, o baile dançante que o Antônio de Ázara protagonizou: se a Ica não quer dançar, azar, pois há quem queira; do meio do congado arranjou uma parceira atrevida e lá se foi a bailar; e quando o congado recomeçou sua cantoria, enrolou-se no meio das meninas, de mãos dadas, cantando, dançando, agachando, subindo novamente. Ufa!




Vamos almoçar que o Nonato tá nervoso com a hora do despertador ultrapassada.


Lá na Pousada do Juca um espetinho pronto já nos esperava saindo da brasa. O churrasquinho e a cerveja serviram como antepasto para o almoço que em seguida foi servido. Além da cerveja, surpresa das surpresas para aqueles meninos que não mediam distâncias para ir buscar algumas frutas: um balaio cheio de laranjas descansava pachorrento abaixo da barraquinha dos churrascos.  E, mordomia assim seminarista só poderia encontrar no céu, nem precisava descascar, era só estender a mão e sair com a gordinha suculenta espremida na boca. São de gentilezas assim que somos muito gratos à família do Santana.


Numa  decisão  regada  a  cerveja e  pinga da  cabeça     ou 
na cabeça, foram definidos o local, Belém,  e a coordenação
 do VI  Encontro: Nonato(4) e Chicão (5)      na  organização
 em Belém; Tupy(2), na qualidade de nativo,  assessora    na
 definição de roteiro turístico;  Lua  (1) e  Shirley (3) buscam,
junto  às agências de  viagem, um pacote econômico.
Todos fartos e sem remorsos, foi hora de passar para a nossa reunião, onde seria decidido o lugar do próximo encontro. À sugestão da cidade de Belém, colocada desde o encontro anterior, foi contraposta, pelo Benone, um resort em Angra dos Reis, e o Ázara sugeriu que fossemos um pouco mais longe, à Belém de Israel, à Terra Santa. Levantou-se uma discussão pela preocupação com o aspecto financeiro que poderia impedir a presença de alguns, por outro lado, falou-se também que deveríamos nos ater aos lugares que tivessem uma ligação com os easistas, o que descartava Angra dos Reis. Enfim, Belém do Pará foi aprovada quase que por unanimidade, exceto talvez pelo Ázara que votou pela outra.


Tudo resolvido, ainda faltava uma tarefa a executar: as fotografias de despedida à beira do rio, ali mesmo ao fundo da pousada, que levavam também a esperança de uma delas vencer o próximo concurso de fotos.




Elas na foto da despedida à beira do rio Jacaré.



Eles na foto da despedida à beira do rio Jacaré. 


E as despedidas começaram por aqueles que dali mesmo retornariam aos seus lugares, atravessando o espelho de volta ao mundo real. Findas as despedidas e os agradecimentos a todos os familiares do Santana por nos propiciarem tão maravilhosa acolhida, voltamos ao ônibus que nos levaria de volta a Campo Belo. Um pouco mais vazio, o ônibus não manifestava o mesmo entusiasmo que havia na manhã, embora uns tenham puxado algumas músicas.


À noite ainda nos encontramos com alguns easistas na praça em frente à matriz, e depois fomos fazer uma pequena ceia. O Padre Guilherme nos acompanhou junto com o casal Tupy em um fim de encontro leve, amigo e camarada.



Segunda-feira, 23 de setembro.


Descemos para o café-da-manhã e encontramos ainda a turma de Belém, bandeirantes tardios que desbravam este Brasil em busca de nosso ouro: nossa amizade. E que logo partiram em direção ao Pará. Em seguida fomos nós, o último casal dos easistas a deixar o Hotel Champagne, apagando as luzes do nosso V Encontro.
O casal dos easistas que apagou a luz do V Encontro:
Siovani e Rosimere.


Resta-nos agora decidir como chegar ao nosso VI Encontro, mas, parafraseando o Seoldo, o melhor seria pegar uma carona na cauda da estrela que brilha solitária lá no alto do céu da nossa bandeira, que se não é a estrela de Belém, que conduziu os reis magos, é a estrela que nos conduzirá ao Pará, acima da linha do equador, e que atraiu os padres crúzios ao Brasil.




Um trajeto escrito nas estrelas: o mapa da terra e o mapa do céu - curiosa
coincidência (vide texto à direita)
Há uma curiosa coincidência que percebi há alguns anos. Quando eu viajava de Miracema para Campo Belo, eu fazia a viagem em quatro etapas. Saía de Miracema e ia a Leopoldina, onde almoçava e conheci o Seoldo, o Bessa e o Ázara; dali seguia para Juiz de Fora, onde dormia; na manhã seguinte partia para Belo Horizonte, onde, finalmente, pegava o ônibus para Campo Belo. Estas cinco cidades, todas com a presença dos crúzios, formam num mapa as cinco estrelas do Cruzeiro do Sul, Campo Belo lá no alto. Observei ainda que os padres crúzios ou estavam dentro da região do cruzeiro ou nas extremidades do prolongamento do braço da cruz: Rio de Janeiro, pelo lado esquerdo de Juiz de Fora; Belém, pelo lado direito de Belo Horizonte. É por tudo isso que o Hamlet se espantava com os mistérios dos céus.


Até Belém do Pará.

    


              

28 comentários:

  1. Grande Siovani ! Mas uma vez você nos brinda com seu talento ! Acho que já podemos pensar em
    transformar estas crônicas numa bela publicação. Não necessariamente agora, mas num futuro
    próximo. São documentos importantes sobre nossas vidas que poderemos deixar para nossas famílias. Quanto ao Encontro 2015, acho importantes que procuremos um local com uma certa estrutura, com um certo conforto. Até por conta das esposas, filhos e netos que nos prestigiam com suas presenças. Ter a ver com os EASISTAS ! Será, mesmo, importante ? O importante mesmo, segundo entendo, é estarmos JUNTOS ! Falou-se em ir a Leopoldina, Senhora de Oliveira e outras cidades dos nossos amigos. Mas teriam, estas cidades, uma estrutura razoável para nos receber ? Gostaria de citar, uma vez mais, para a avaliação de todos o resort Vila Galé, de Angra dos Reis. Vide www.vilagale.com.br. - Um fraternal abraços a todos - Benone

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    1. Benone,
      eu também não acho que necessariamente tenhamos que fazer os encontros em cidades relacionadas com os easistas, pois essa relação é muito subjetiva. Como a ideia de Belém foi colocada com bastante antecedência, fica a sua sugestão desde já colocada para que todos possam se manifestar.

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    2. Claro Siovani ! Belém, 2014, é decisão tomada. Estaremos lá, com força!
      Gostaria, mesmo, que nossos amigos examinassem O Vila Galé - Angra dos Reis.
      Eles têm uma estrutura maravilhosa, como pode ser visto. Lógico que estamos abertos para outras sugestões. Fico feliz em saber que partilhamos as mesmas idéias. Abraços - benone

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    3. Esse negócio de definir o local dos próximos Encontros não pode virar uma queda de braço, mas como nossa terra foi citada, e em respeito à sempre positiva participação do Benone em assuntos dos Encontros, vou responder: Senhora de Oliveira tem hotéis e pousadas com apartamento/suíte a preço de trinta reais por pessoa, com direito a café da manhã. Não temos atrações turísticas convencionais, mas podemos organizar, por exmplo: uma visita à usina de álcool; um passeio a cavalo de Senhora de Oliveira a alguma região próxima, por exemplo, ao Córrego do Prudente ou às plantações da café, etc. Temos locais para eventos com espaço suficiente para nosso grupo. E além disso, temos comida a preços de banana. O luxo de Angra do Reis (eu vi o site que o Benone indicou) não pode ser comparado ao que se pode ter em Senhora de Oliveira, mas, cada um com sua balança e peso, há coisas importantes também em apenas... (complete você mesmo)

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  2. Gostei muito de voltar a Santana de Jacaré e reviver bons momentos de minha adolescência. Gostei também dessa crônica; um pouco de poesia, um pouco de literatura, um pouco de magia.
    Parabéns ao Eustáquio e ao Santana e família pela organização grande recepção em Santana do Jacaré.
    Valeu demais da conta!

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  3. Será por que o Rosalino não aparece na primeira foto desta postagem? Sabemos que ele estava presente.

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    1. Prezado anônimo, agradeço sua atenção para como a figura de nosso ilustre Rosalino, que realmente estava presente nesse almoço e deveria estar na foto; mas acontece que o "menino" estava com uma filmadora e com espírito de jornalista - isso sem falar na caipirinha na cuca, resultado: gostou dos bastidores e esqueceu-se do palco. Assim como o Tupy, em 2012, que havia fugido de nossa máquina fotográfica, agora foi a vez do Rosalino —. Mas podemos reparar isso: caso você tenha uma foto com todos, inclusive com o ilustre Oliveirense nascido em Piranga, pode mandar que a gente substitui aquela com muito prazer.

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  4. Não imaginam a minha inveja... e quanta saudade!!! Estava com tudo arrumado para ir: carro revisado, mala pronta, dinheiro na carteira, máquina fotográfica etc... Infelizmente, problemas familiares de última hora me impediram. Meu filho está construindo, pois pretende se casar em janeiro próximo, e justamente naquele dia a loja de móveis programados agendou para a entrega e instalação dos mesmo e logo eu tinha de acompanha-los na instalação e ainda resolver um problema urgente na hidráulica da cozinha para adequação do gabinete da pia. Liguei para o Lulu e o Nonato justificarem minha ausência. Se não o fizeram, estou fazendo agora e espero que compreendam e me perdoem. Abraço fraternal a todos. Quanto ao próximo, infelizmente não estarei presente, pois não ando de avião... nem de navio... sou um covarde!!!
    Que Deus os abençoe.
    João Henrique

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  5. Hei !, Você ai que está se escondendo no anonimato ! Se mostre ! Queremos de ver ! rsrsrsrs - Benone

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  6. Gostaria que o Santana, se pudesse, me respondesse a uma pergunta: me lembro, que na outra margem do rio jacaré, tinha uma pequena estrada de terra, por onde caminhei junto com o Cristelli e
    o Rubinho, uma certa vez. Agora, naquele local que fomos na beira do rio, também ví, na outra margem, uma pequena estrada de terra. Seria a mesma ? Benone

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    1. Caro Benone,

      Esta estrada a qual você se refere de caminhada com o Cristeli , do outro lado do rio, penso que deve ser a antiga estrada para Campo Belo. Ela fica à esquerda após a ponte, para quem sai de Santana para Campo Belo e não é asfaltada.
      A que segue em frente, após a ponte, que agora é asfaltada, também dava acesso a Campo Belo, mas na época era menos utilizada. Atualmente, após um trecho de aproximadamente 3 km, seu percurso foi modificado para atingir mais rapidamente a rodovia que liga Oliveira a Campo Belo (BR 369).
      Todavia, se você se refere a uma pequena estrada de terra do outro lado do rio, vista a partir do local da draga de retirar areia, onde estivemos, então não é a que você percorreu juntamente com o Cristeli e o Rubinho. Esta estrada não sai na ponte, porque no meio do trajeto tem um ribeirão (Ribeirão São Miguel), afluente do Rio Jacaré, que deságua no Rio Jacaré exatamente antes da ponte. Qualquer dúvida verifique pelo mapa do Google.

      Um abraço,

      Santana

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  7. Valeu Santana ! Mais uma perguntinha. Todos nós lembramos que o rio era muito raso, o que pode ser comprovado pela foto que temos no nosso blog e que você também deve ter visto. Na foto, vemos
    a mal cobrindo o joelho de meninos nem tão grandes. Você acha que o rio jacaré continua rasinho como antigamente ? Abraços - Benone

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  8. Seria bom se tivéssemos uma participação mais efetiva dos nossos amigos em nosso blog.
    Uma trabalho como esse, feito com o maior carinho pelo Siovani, Lulu e outros, merece nossa
    melhor atenção. Vamos participar moçada ! Não doe !!!! rsrsrs - Abração - Benone

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    1. Benone,

      Este trecho da foto, ao qual você se refere, era apenas um braço do rio, que circundava uma pequena ilha, por isso era muito raso. Hoje, ele não existe mais, pois um banco de areia obstrui a sua entrada. O outro braço, que era o leito principal era mais fundo.
      Antigamente o rio, em geral, era mais fundo. Existiam alguns lugares perigosos e famosos: o rebojo abaixo da ponte, o rebojo da Sambuzina (acima da ponte e em frente ao abatedouro de frangos) e o "sessenta", que era um trecho abaixo da ponte e ao lado do campo de futebol da Associação, onde os meninos gostavam de nadar, normalmente pelados. Neste local, só os mais hábeis nadadores podiam entrar.
      Outro local preferido era perto da ponte. O desafio era pular de cima da ponte. Nem todos tinham coragem. Outros pulavam de cima da grade da ponte. Quando o rio estava mais cheio, ninguém conseguia atingir o fundo do rio.
      Hoje, o rio está muito assoreado e o canal principal foi tomado pela areia, de tal forma que, acima da ponte, pode-se atravessar o rio a pé, coisa que antigamente era impossível.

      Um abraço,

      Santana (Toinzé)

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  9. Nunca é demasiado elogiar e agradecer os editores do Blog pela postagem REFLEXOS DO V ENCONTRO. O estilo e as fotos refletem o carinho/dedicação do autor Siovani. Ai vão alguns pontos/cutucadas/observações/brincadeiras inocentes. ..

    ---Tudo e Todos parecem mais novos/jovens... menos o Rio Jacaré... saudades do Jangada?!!! Mas agora temos o TOINZÉ!!!
    --- Os dois jacarés se salvaram porque eram os únicos que sabiam nadar de costas (proteção contra as piranhas nos tempos primitivos em que o Rio Jacaré corria tranquilo entre as matas virgens balançadas pelos ventos frescos do norte.
    ---Sonhos de ver o Amazonas... e também as Araras que ensinaram o Raimundo a falar bonito... Que o 1/2 DUZIA ENCONTRO seja "Belemdito"!!! Vamos ou não visitar o túmulo do Bessa?
    ---Joao Henrique, velho companheiro violeiro Easista! Você vai ficar fora do CÉU... porque para lá só se vai voando...Que tal ir a Belém pela "Viação Anaconda"?
    ---Easista Benone... sempre acelerado, hein!!! Se o Rio é o mesmo, a Ilha é a mesma, a Brisa é a mesma, a Sombra é a mesma... o Urubu é sempre preto, então aquela Estrada é a MESMA, mesmimha mesmo!!! Abracos a todos. Easista Seoldo.

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  10. Finalmente o meu amigo Seoldo se manifestou ! Estamos querendo a confirmação oficial de sua
    presença e, claro, da Judy , para o Encontro de Belém. Abraços - Benone

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  11. A meu ver este foi o melhor dos Encontros, embora o primeiro tenha sido mais rico em surpresas e emoções. Noto que embora, em todos os Encontros, as crianças que fomos há 50 anos aflorem e tragam à tona o melhor que temos; neste, alguma coisa maior se consolidou. Siovani ao descrever o menino-formiga que carrega sacos de laranjas com o dobro de seu peso e que chega agora a Campo Belo em vestes, corpo e atitudes de marmanjo captou bem o espírito da criança que ali, na Campo Belo Easista, foi feliz, e que agora retorna para reverenciar esta importante parte de sua história. É assim que me sinto quando venho aos Encontros e quanto penso nas boas coisas que vivi na EASO, uma mistura de orgulho do menino que fui e dos colegas que ali tive. Esse conteúdo positivo já estava em mim, um pouco adormecido, e os Encontros reavivaram-no.

    Mas dessa vez senti que não somos apenas Encontristas homenageando o passado; avançamos: estamos nos transformando num grupo do presente — cinco Encontros foram suficientes para quebrar o gelo e para afastar aquela ideia de que somos estranhos no tempo presente, embora alguns de nós tenham sido grandes amigos num tempo passado; e, em breve, os anos sessenta começarão a ser passado do passado; e nisso as mulheres, esposas, filhos, filhas e netos têm sido fundamentais. Talvez algum dia aqueles meninos irão sentir saudades dos adultos que somos agora — nossos filósofos da relatividade que expliquem isso. As mulheres, naturalmente mais sensíveis, têm ido ao palco, mostram suas poesias e exorcizam os velhos rabugentos que querem tomar conta de nossa meninice. Noto que confiamos cada vez mais no outro, já sabemos quem é quem. E mesmo os pequenos, irrelevantes e humanamente compreensíveis desencontros podem ser considerados como acanhados acidentes de percurso, parte deste caminhar no qual não se pode dispensar uma boa pinga ou uma geladinha.

    Gostei de rever Santana do Jacaré. Senti-me, em conforto material e espiritual, em casa: Santana, este que algumas vezes chamamos também de Antônio José Ferreira, e família, os grandes anfitriões em sua terra, nota dez com louvor; Eustáquio, o incansável presidente, que abre as portas de Campo Belo e sempre nos dá o suporte, nota dez com louvor; estes formaram uma excelente equipe e foram os responsáveis por essa viagem ao passado e este Encontro no presente. E Geísa que reúne simpatia e eficiência, nota dez com louvor. E num voto de confiança, nota dez com louvor, também, para aqueles que vão organizar o VI Encontro: Nonato, Chicão e Tupy, os nativos; e Shirley e Lua, os forasteiros. A todos estes, Parabéns.

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    1. Lulu, demais easistas e familiares,

      Obrigado pelos comentários elogiosos a mim e a minha família. Foi uma alegria e satisfação para nós poder oferecer aos easistas e familiares uma boa hospitalidade. Assim mesmo, acho que houveram algumas falhas, como não ter oferecido um cafezinho na chegada. Fui parcialmente salvo pelos biscoitos que a Fátima havia providenciado. Outra, foi deixar de providenciar água para todos, enquanto estávamos dentro do ônibus naquele calor todo.

      Em nome da comissão Organizadora, agradecemos todas as manifestações e esta bela síntese de todo o encontro, elaborado pelo eficiente Siovani.

      Um abraço a todos,

      Santana (Toinzé)

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  12. Muito positivo Lulu, seus comentário sobre o exame da localização do Encontro 2015. Realmente não se pode transformar isto numa queda de braço. E porque seria ? O que estamos fazendo é sugerindo possibilidades. Todas, suponho, são e serão sempre muito bem vindas pois, a partir delas, faremos nossa escolha. Abraços - Benone

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  13. Valeu Santana ! Um questão que já foi posta, inclusive por mim, é que teríamos, naquela época, corrido risco de afogamento, principalmente daqueles que não sabiam nadar. Não me lembro de haver restrições sobre até onde poderíamos ir. Havia, mesmo, este risco ou aquele trecho do rio era absolutamente inofensivo ? - Benone

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  14. Prezado amigo Siovane,
    Parabéns por sua discrição, que é uma das características mais marcantes de sua personalidade. Com seu silêncio, você demonstra ser verdadeira a máxima de que “Deus nos deu dois ouvidos e uma boca para falar menos ouvir mais”.
    No ótimo texto publicado no blog, você consegue narrar o acontecimento com a habilidade do médico com seu bisturi mágico ou com o talento de Michelangelo, que esculpiu na pedra bruta a imagem de Moisés e, ao ver o resultado, à semelhança com o ser humano, não resistiu e exclamou: “Parla!”. Embora não obtivesse resposta, segue até hoje a história para enaltecer a obra de arte perfeita.
    Foi um excelente encontro, matamos as saudades tanto dos colegas como dos lugares onde tomávamos banho nas praias do Jacaré, da Lua Cheia boiando no céu com toda sua magnitude e, por extensão, do presidente da Germana, o Lua.
    Sua maneira eclética de tratar os fatos faz uma linda e agradável miscelânea, uma pitada de poesia, um pouco de narrativa e um toque de hermetismo, dentro do estilo mais versado na literatura contemporânea , formando o encantamento que flui com leveza e nos remete a cada instante de volta ao passeio mais recente e nos anima para o próximo encontro. Como é de se antever, o VI Encontro em Belém do Pará será um maravilhoso passeio! Espero estar lá, se Deus quiser.
    Só hoje faço o comentário, pois é quando tenho tempo de dar uma olhada no blog. Ando trabalhando muito para superar o tempo em que fiquei politicando e agora tento repaginar minha vida.
    Um abraço a todos.
    Edgard.

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    1. Caro Edgar,
      seus exagerados enaltecimentos quase me fizeram recair no pecado que há tanto tempo me esforço por eliminar da minha vida, o orgulho; mas, se consegui um texto que agrada, acho que se deve ao clima que paira em nossos encontros, o qual nos transporta para os tempos do seminário onde vivíamos sentimentos variados e complexos de medos, saudades, alegrias, faltas, coragens e esperanças.
      Existe algo de mágico, pois já tentaram me levar a outros encontros, tais como, dos estudantes da escola de engenharia, outros da família, que não me despertaram o mesmo entusiasmo.
      Se o criador do Moisés tinha o Papa Júlio II a espezinhar-lhe, levando-o a tentar se superar, talvez, parodiando o Luiz Guimarães, exista lá pelo colégio Dom Cabral o fantasma do Pe. Humberto dando coices, não com os pés, pois os outros doíam mais e eram mais perigosos, que me leva a tentar apaziguá-lo com um tanto de alegria e poesia.
      Siovani

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    2. Prezado Siovane,
      Não houve exagero em meu comentário, pois expressei apenas o que penso e, como a modéstia é uma de suas qualidades, você o considerou exagerado. Quem me conhece sabe que aprendi, no decorrer da vida, a agir com isenção e personalidade. Também aprendi não cultivar a frivolidade dos elogios fáceis. As pessoas que têm real valor às vezes preferem deixá-lo escondido, pela própria vontade, o que é imensamente louvável. Porém, quando surge a oportunidade do reconhecimento, devemos fazê-lo e, com sinceridade, nos sentimos muito felizes por isso.
      Um abraço.
      Edgard.

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  16. Quero fazer minhas as palavras do Lulu. O Encontro foi ótimo, feitos com todo carinho pelo Santana, sua esposa e pelo Eustáquio. Parabéns e muito obrigado a todos. Abraços - Benone

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  17. Benone,

    Risco havia e muito. Apesar daquele trecho ser muito raso, quem se aventurasse no outro braço, que era o leito principal, corria um sério risco. Lembro que os padres e os seminaristas maiores, que sabiam nadar muito bem, como o Chicão e outros, nos avisavam do perigo. Mas mesmo assim, um ou outro menor, de vez em quando, escapava e aprontava algumas. Eu mesmo quase me afoguei. Lembro-me que fiquei apavorado, quando sentado em uma parte rasa, senti, de repente, me faltar o pé no fundo do rio e comecei a ser arrastado pela correnteza. Comecei a gritar pela minha mãe. Sorte que eu sabia nadar um pouco, fui flutuando e a correnteza me arrastou para um remanso. Criei coragem e comecei a nadar para o lado da margem, onde já tinha muita gente me observando e pronta para me socorrer.
    Parece que ocorreram outros casos, mas felizmente não aconteceu algo pior. Quer risco maior do que aquele que corríamos em cima das carrocerias de caminhão, sem nenhuma proteção?
    Mas não lamento, nem recrimino os padres por isso. Na vida a gente sempre corre riscos. Faz parte da vida, desde a geração de cada novo ser. Como já dizia Guimarães Rosa: "Viver é perigoso".

    Um abraço,

    Santana

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  18. Caros colegas easistas:

    Endosso -- embora com algum atraso devido a uma série de compromissos pessoais prioritários, por se relacionarem com questões de saúde -- todos os elogios feitos ao 5º. Encontro e à crônica do Siovani. Os comentários também estão todos muito interessantes. O prazer e a alegria dos nossos reencontros anuais
    vão aumentando na medida em que os anos passam. E as visitas ao blog e às novidades que encontramos aqui renovam esta satisfação.
    Sobre os perigos de nossas aventuras no Rio Jacaré, e como os padres crúzios eram inexplicavelmente despreocupados com relação a isso, já havia chamado a atenção na minha entrevista ao Edgard,
    no post de maio do ano passado. Lá em Santana mesmo ouvi um relato do Rafael, parecido com o do Santana (comentário acima), relembrando o dia em que quase se afogou, numa das temporadas de férias -- e que foi salvo pelos gritos de colegas que lhe disseram para se segurar num galho ou tronco de madeira que passava por perto, levado pela correnteza. Ele, Rafael, pode confirmar isso aqui mesmo.
    Na beira do rio, neste último passeio, não reconheci e não vi as ingazeiras que cresciam fartas nas duas margens do Jacaré e nos davam o doce sabor dos seus frutos, na verdade os bagos de seus legumes. Fiquei frustrado por não provar novamente daquele sabor que não sinto há mais de 53 anos -- e que me remete sempre aos tempos do Seminário, assim como o dos araticuns que catávamos em outros passeios, estes em campos de cerrado e que são a minha fruta predileta até hoje.
    A todos os organizadores dos Encontros -- deste, dos anteriores e dos próximos --, os meus melhores agradecimentos. Abraços a todos. MR - 8/10 - 11:22


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  19. Obrigado Santana ! Vê-se que demos um tremendo trabalho para os nossos anjos da guarda.
    Grande abraço prá você, meu amigo ! - Benone

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