sábado, 22 de junho de 2013

Elegia ao Bessa

                                                                                   por Seoldo


EASISTA BESSA--- MEMÓRIAS


01 - Bessa nas cercanias de  Roma, Itália, 1965

Observações: convivi com o Bessa de 1956 a 1967 na EASO  – Escola Apostólica Santa Odília, no seminário maior em Leopoldina, um ano em Roma e um ano no Convento em Belo Horizonte. Posso dizer, sem vaidade, que conheci as virtudes e as manhas dele. Algumas coisas nesta Elegia podem estar um pouquinho exageradas... mas "para que levar a vida tanto a sério se não vamos sair vivos dela mesmo?"

03 - Escola pintada de novo, na Vila
de São Jorge (PA),  que tem o nome
 de Padre Bessa  Foto de 2013 cedida
 por Nonato..
02 - Irmão do Bessa, Francisco,
segura uma foto com o Padre
Bessa e seus pais.
Bessa bebê: nascido em 13 de junho de 1935 (dia de Santo Antônio), por isso foi chamado Antônio Araújo Bessa. O lugar chamava-se Dezoito (referência ao Km 18, distância da cidade de Igarapé-Açu (Pará).
Pai: Joaquim Araújo Bessa
Mãe: Telmira Lis Bessa
Irmãos: Jorge Araújo Bessa
Francisco Araújo Bessa
(além de outros).                                      
 04 - Igreja na Vila de São Jorge (PA) onde Bessa foi batizado,
fez a primeira comunhão e foi ordenado padre em 1969.
Foto de 2013 cedida por  Nonato.
05 - Casa com salão paroquial, onde morou Bessa com os  padres Crúzios
, Vila São Jorge - Pará. Foto de 2013 cedida  por Nonato .

Calças justas acima do umbigo
Calção grande batendo no joelho
Por ser mais velho era de todos amigo
Do Cutia, Jacaré e do Coelho

Quando sorria os olhos fechava
Fingia não entender bem as lorotas
As mãos postas cada vez mais apertava
Afastando da mente as gatas de botas

Nunca recebeu nenhum castigo
Dava bom exemplo pros inocentes
Dizia francamente não ter inimigo
Que só comia pra palitar os dentes

Chutava para onde o nariz apontava
Abria a bíblia com toda solenidade
Cabeludo no peito, mas se cuidava
Vaidoso de Dezoito, sua cara cidade.


Uma vez Pe. Marino convidou um hipnotizador para dar uma demonstração na EASO. Bessa estava de olhos fechados no grupo dos candidatos para serem testados... Nestas alturas todos do grupo pareciam estar dormindo (Azara, Carraro, Aureliano, João Henrique, Santana, Nonato, etc...). Então o hipnotizador disse com uma voz bem melosa "Aquele que acredita em Deus não sofrera dor alguma quando eu enfiar esta agulha na sua unha...". Sem esperar, Bessa logo gritou: "Espera ai, doutor! O meu Deus não é o mesmo que o seu". Conclusão: Bessa deu graças ao seu Deus de ser eliminado do grupo, pois não servia. Mas isso deixou uma impressão tão grande no Pe. Marino que acabou nomeando secretamente o Bessa como "Conselheiro privado" dos EASISTAS que faziam xixi, ou melhor, mijavam na cama, pois sempre havia um ou outro que se esquecia de "fechar a torneirinha" de noite!

06 - Tupy, Pe. Jaime, Bessa e Pe. Henrique                
na frente do Convento São José, Leopoldina - MG
Cerca de 1964. Foto cedida por Tupy
Bessa gostava de ajudar missa para poder bater o sino ou a campainha... de vez em quando o celebrante olhava de lado para ele.... Bessa dizia que nada pedia a Deus... só Lhe agradecia a comida na mesa todos os dias. Gostava muito de peixe... por isso sempre ia passar as férias no Rio Jacaré, na fazenda do avô do Santana. Ali, além de pescar lambari dourado, Bessa ajudava no matadouro de gado. Ficou perito em tirar o couro das carcaças e até mesmo de treinar urubus como esticá-lo... Cada um puxando em uma ponta. Para esticar o couro, colocavam-se duas varas fortes em forma de cruz: a perna da pata direita ligando-se com a pata da mao esquerda; e a perna da mao direita ligando-se com a perna da pata esquerda. Desta maneira, Bessa vivia sempre lidando com cruz, trabalhando com cruz, fazendo cruz, carregando cruz... Não se importando com o fedor de carniça nem com a fiel companhia dos urubus, desde que ele mesmo estivesse no meio das cruzes. Camila (filha do Santana) disse-me que ouviu seu bisavô dizer que um dia quase que os urubus levantaram um couro com o Bessa com destino ao Além.... Bessa gostava de pirulito e picolé... de tirar a camisa e amarrá-la na barriga cabeluda... de limpar os óculos com um bafo da boca e depois enxugá-los com um lenço amarrotado que sempre carregava no bolso de trás.
07 - A partir da esquerda: José Maria de 
Carvalho Coelho, Antônio Araújo Bessa e
Geraldo Hélcio Seoldo Rodrigues, nos jardins
 do Convento dos Crúzios, Roma-Itália, 
1965. Foto cedida por Seoldo.
Bessa era uma pessoa distinta, sem fingimento... uma pessoa de bem e bondosa. Em suma, quase um cristão perfeito! Não gostava de brigas e discussões, sobretudo no estudo da Bíblia. Estava em paz consigo mesmo; aceitava o que a igreja falava. Parece que tinha mais fé que os discípulos pescadores Pedro e João. O Reino do Bessa não era deste mundo! “Cheguei, Cheirei, Chutei” - era sua tradução latina de "Vini, Vidi, Vixi" Pe. Lucas lhe deu um ZERO! Suas traduçoes da famosa sigla mineira naquela época TFM (Tradicional Família Mineira) eram três:

Tenham Fé, Malditos!
Tudo Fora da Moda.
Todos Filhos de Maria (sua preferida).

Bessa filosofando: toda planta precisa ao menos de um pouquinho de água. Exemplo: a Floresta Amazônica.
Bessa filosofando rimando:
A terra da tudo, até o palmito
A mulher faz comida temperada
O homem trabalha fazendo palito
O diabo vem e dá a cutucada!

Bessa alegava que seu corpo era cabeludo como sinal de que era descendente de um ajudante de David na luta contra Golias.

Bessa detestava:         
Sodoma e Gomorra.
Judas Iscariotes e Barrabás
Lutero e Chico Xavier
Bessa gostava de:

Luiz Gonzaga e o Luar do Sertão
Padre Cícero e Frei Damião
Fogueiras e Fafá de Belém.


Luar do sertão na voz de Luiz Gonzaga e Milton Nascimento
Bessa em futebol só colocava o pé na bola quando tirava o tiro de meta.
Bessa não gastava muita energia em estudar, pois dizia que "meditar" era mais importante e que dava mais e melhores resultados.
Bessa propôs, oficialmente, e lutou mesmo para que a cruz branca e vermelha no escapulário dos crúzios ficasse nas costas e não no peito... Dizia, com lógica, que cruz só se carrega nas costas...

08 - Bessa no tempo dos cabelos
 lisos e  costeletas à moda de
 Elvis Presley. Foto cedida por
Tupy
Bessa deixou sua costeleta crescer para acompanhar a moda do Elvis Presley... Mas não sabia requebrar e era muito desafinado... Não foi aceito em nenhum coral de igreja. Pe. Henrique cansou de ajudar o Bessa a cantar o "Dominus Vobiscum" (hoje traduzido: o Senhor esteja comigo primeiro e depois um pouco com vocês também!).

Apelidos que Bessa deu a certos Easistas:

Ovo de Codorna - Ázara
Candelabro Barroco - Tupi
Meteoro sem Bateria - Seoldo
Page Enrolâo - Zé Maria
Boneco Vaidoso – Carraro.
Sugestão de epitáfio


Já que o Bessa não teve tempo de fazer seu EPITÁFIO, aí vai um como sugestão minha:

Servi a meu Deus contente
Ajudando a todos sem distinção
Não fui doutor nem tenente
Mas servo fiel da Boa Missão!




09 - Ordenacao do Bessa, 1969,  Vila São Jorge
 (PA). Bessa ajoelhado; Pe. Thiago Boets com
as mãos na cabeca dele; atrás, a partir da esquerda:
 Pe. Jaime, Pe  Honório Laat e o Pe. Cornélio Ver
Stralen com pasta a tiracolo...Atrás do Pe. Honório
parece ser Pe. Guilherme van de Lokkant;e
 atrás de Pe. Agostinho parece ser Pe Humberto. 
 Cedida por Tupy



Não tenho informações da curta vida do Bessa como sacerdote; ordenado em 06 de julho de 1969 e falecido em 20 de janeiro de 1971 (apenas 1 ano e meio!). Tinha 35 anos e pouco. Hoje teria 78 anos. O Easista Raimundo Nonato com sua esposa Nazaré fizeram uma visita na sua paróquia, na Vila São Jorge, e conseguiram algumas fotografias. Creio que e nossa tarefa é divulgar o que sabemos sobre o Bessa, o Matusalém dos Easistas!

Lembranças do bom Bessa piedoso
Lembranças do bom Bessa sacristão
Lembranças do bom Bessa caridoso
Lembranças, Padre Bessa, nosso irmão!

DOMINUS VOBISCUM, BESSA!
SURSUM CORDA, EASISTAS!

Geraldo Hélcio Seoldo Rodrigues  -  EASISTA SEOLDO.



Outras fotos

10 - Na frente da Igreja São José, Leopoldina  (MG), 1964. A partir da esquerda:  Bessa; Seoldo (o Meteoro Sem Bateria), 
Carraro (o Boneco Vaidoso), Antônio de Ázara (o Ovo de Codorna),  Pe. Henrique Cuppen, Pe, Paulo Bot, e Tupy (o Candelabro Barroco). Foto cedida por Tupy 
11- Bessa (em destaque) - foto de 1958,  EASO, Ginásio Dom Cabral.  Campo Belo (MG)